15 maio 2011

'Soma



O fim começa à retroceder
Minha alma sem medo, ou dor
Rosa, em sua mais alta plenitude
Minha madrigal celeste
Estrela terrestre de minha alma
Respire o último tom violeta da terra
Exprima tua angústia, para longe, no céu
Vista-se de pedra, seja meu escudo de papel
Seja uma semente para este coração vazio
Plante-a, seja meu ópio nocivo
Seja minha soma diária
Minha sagrada, profana
Deixe-me ir, para mais além de teu corpo
Cubra os olhos, preencha minha boca
Arranque às feridas deste servo contraditório
Seja à minha mais nova arte negra
Seja um novo dia, em ascensão
Seja meu perdão diário, ao passado que tento esquecer
Entorpeça-me com teu odor, com o teu gosto
Beije-me, até poder afetar minha inteligência
Sugue tudo, tudo, todos
Deixe-me aqui, sozinho, no agrado de tua sombra
Não me importo mais com o mal, que ainda pode estar aqui dentro
O seu bem, será um novo filtro dentro de mim
Não me importo, não me importo mais...
Quero morrer em seus braços
Quero esquecer o gosto da dor
Aquele, entre a língua e o céu da boca
Não consigo esquecer, não me lembro de viver
Não me lembro de tentar, não me lembro de sentir
Não me lembro de mais nada, não quero, não desejo
Não mais, não mais...
É como se tivesse uma faca em meu peito
Berros ao nada, dizendo
- minha alma ganhou mais uma nova rachadura -
Estou aqui, minha pérgola enfeitada de flores e vinho
Sim, o vinho, o odor do inverno
Paira sobre suas asas divinas
Exala vida, para dentro deste boneco de ferro precário
Volte, volte para mim
Este servo maltratado, implora sua volta
Entorpeça-me mais uma vez
Seja à droga, da qual tanto necessito
Seja meu admirável mundo novo
Minha soma diária...
Seja o início, que retrocede ao fim de meu tempo.


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