31 janeiro 2011

Existem dois tipos de arte
Aquela que se faz com mãos de veludo
A outra com fios de aço
Nas toca-se harpas ululantes
A segunda notas surdas de um violino errante, porém belo
E há o terceiro tipo de arte
Que na verdade não é tipo
Nem silogismo
O terceiro tipo de arte
É nada cheio de nadas
È vazio cheio de vazios
É ser sempre dentro do ser
É garrafa mais cheia do que pode estar cheia
Mais vazia do que pode nunca existir

Nessa arte a gente escreve
E não escreve

Trevas

Alguma coisa se derrama
Fermentando nos meus dias.
Os olhos ardem pelo assombro indiferente
Que encena a mesma tragédia.
De minha boca nascem murmúrios,
Clamando a eternidade nesse ritual sagrado.

Sou levada em delicada liteira
Para o palácio dos delírios.
Vou vestida de sol
E me sopram um vento ondulante.

Meus olhos teimam em ver
A luta da esperança
Espalhando escorpiões pela noite.

De meus seios cintilam libélulas
E as trevas se adensam
Consumindo a claridade.

Caronte me faz o sinal
E eu entro em sua barca de adaga pronta
E moedas contadas.
Vou ser extinta e o meu sangue oxida
Na ampulheta.

A terra se prepara com musgos de veludo,
E a engrenagem roda o fim do funeral.
Mesmo sabendo que aqui tão longe
É tua a minha solidão,
Tudo se acalma quando me deito
Em meu leito sepulcral.


.

A voz calou
Naquela manhã nublada,
Quando partiste inusitada,
Deixando-me só,
Ao relento da vela apagada...
Não encontro mais meus dizeres,
Nem meus óculos,
Nem teus beijos,
(aqueles que você me concedia
Ao raiar dos dias,
Ou no tardar dos crepúsculos)...
Abro a janela e observo
Nosso caminho desolado,
Sem ninguém a passear,
Nossas pegadas sumindo ao vento,
Nossas danças aos poucos silenciando...
Fico imaginando por onde estás,
Se estás bem...
Se ainda sorris daquele jeito: Encabulada...
Embriago-me com as saudades...

.

Beijos alegres num adeus,
Que perdurou um décimo
De nossos infinitos dias,
Ainda por hoje se percebem...
No olho nu do olhar profundo,
Onde guardamos nossas lágrimas,
(derradeiras)
Que um dia deixamos de chorar,
Pois não era a nossa vez de sentir dor...
Um beijo tal qual o primeiro,
Um sonho tal qual o amanhã...



21 janeiro 2011

Caras

Formas de cor e de dor várias formas
de sentir o que vi e o que
nem mesmo o verso livre me deu
Por enquanto,
Os latidos que arrematei
e os tatos que imprimi
Calcificaram-me
o verso de então...
Eu fugi de
Cálcio
Métrica
Douração,
Pluviométricos rincões,
Estações.



Adonis k.

Conclusão do Poeta

Quando a noite dorme sem luar
sem estrelas, sem brilho, sem aconchego...
Quando o dia acorda sem calor
sem neblina, sem olhos, sem meninas dos olhos...
Quando nada volta, quando tudo parte, quando fecha a porta
e a tristeza murcha a flor da esportiva...
Nada importa!
O que vale mesmo é ser e estar.

Com quem quer que convenhamos.
Onde quer que estivermos.
Como quer que estejamos.

 

Corda Tensa



Reconheço que não é tempo de ser feliz.
Mariposas sobrevoam a minha noite
E lobos sacodem os ventos
Para beber da água que espelha o desespero.

A corda tensa do arco vibra
Ao som da voz que grita uma melodia.
Suas palavras silenciam a orbe dos planetas,
Que giram em meu universo.

A dor de se viver é imensa,
Daí nasce a angustia de ser,
Que só se transmuta se és comigo.

Se estás aqui, em meu caminho surge rota.
Meu coração esmagado rejuvenesce
Palpitando um redemoinho e
Adenso-me para escapar do sofrimento.

Viro pássaro e renovo minhas asas
Na ferocidade dos dias.
Quando chegam os tambores
Ressoando a guerra,
Eu sou a primeira a guardar as palavras
De dor e mostrar as benditas.


Um Só Sim


Originalidade dos meus dias sorrindo
Tal qual a sensação de perda e dor
As cores borradas de uma obra de arte que findo
Eu, um ser moribundo de amor.

Teu cheiro que ficou impregnado nos lençóis
Boca que saem palavras de desatar nós
A vida poderia ser tão simples para mim
É só sair do teu cerne um sim.

Ouço sinos, tenho uma renovada expectativa
Todas as campainhas tocam em uma orquestra
Sei que a falta é só o que resta
Sei que a falácia na minha vida não é viva.

Por contornos de rostos amigos
Dentro do mais puro coração
Canto e prego em belos versos antigos.

Sinto que sem tu é falência
Como andar de ré em contramão
És toda minha inteira essência.


.

Em novelos de saudades,
Onde escarafuncho meus passos,
Uma lágrima jasmim aflora,
Toda vez que passeio em teu nome...
Queira ela senão me lembrar,
O quanto ainda fazes parte,
Daqueles dias chamados jardins,
Onde por tantas vezes colhi meus risos,
E que ainda hoje me fazem lembrar,
Dos dias floridos vividos com você...


Na Superfície do Mundo

Feliz ele que nunca perguntava,
Que desconhecia as palavras,
Que não sonhava e vivia arrebatado
Da miséria humana.

Ele que não conhecia caminhos,
Nunca se perdia perseguindo sonhos.
Andava as cegas, silencioso,
Coagulando-se no tempo.

Vivia sem compromissos
E sua órbita lenta não palpitava.
Não valorizava a vigilância
E não teorizava em torno dos elementos.

Estava no avesso do mundo,
A beira de um penhasco sem se dar conta.

Talvez, quem sabe, ele não visse as coisas,
Porque já as habitasse.
Estava somente na formação da bruma,
No vento quando ainda não era.

Vivia na superfície do mundo
Por sabê-lo inteiro e sublinhava desenhos
Parecidos com constelações.

Esse seu mundo se abria
Em infinitas variações que somente
Num duplo espelho se permitia ver.

O seu mundo era um sopro sem resistência.
Ele, que pensavam que ainda havia de ser, já era.
Absoluto naquilo que esperavam.
Seguia sozinho, quando o chamaram.
Ia com uma vela acesa nas mãos
Mostrando o caminho.



19 janeiro 2011

Soubesse o que se sabe

Eu cheretava o olfato, acho
sua sombra em minhas narinas sóbrias e
ela parece inspirar.
Você disse alguma coisa?

Eu sei que disse,
pois o roubei em silêncio.
Mas o que diríamos,
soubesse o que sei eu o que sabe,
seria assunto seu ou meu ou de alguém?

Esperaria quantos dias ouvindo desculpas
sem se lembrar que entretanto se disse só uma
saberia sentir o que sabe eu o que sei?
Seriamos sensatos sem no entanto nos esquecermos de nossas aspirações?

Eu cheretava o olfato, achei
enxergar sua sombra e a ter,
nalgum momento
como a salvação do que sei saber
do que disse, do que espero e assim
me distanciei.

Sincero, não, talvez e assim é
a certeza de que eu não seja um bom amigo
pois quê sei eu de você senão sua sombra,
roubada em silêncio?



Um Poente

Queria te ter como uma sombra
Que passa sem deixar vestígios.
Que fosse só silêncio extremado,
Que não ondulasse sua ternura
Sem medida e sua voz de doçura.

Que deixasse o pó em paz
E as folhas soltas,
Ancoradas em meus dedos.

Que fosse apenas como
Um salgueiro quieto, sem ventar.
Estivesse apenas para existir
E resplandecesse para eu te olhar.

Que fosse música quando
Eu me despedaçasse no chão
Como vaso de cristal
E fosse silêncio enquanto
Eu derramasse palavras no papel.

Que não cantasse a minha volta
O seu bem querer agonizante,
E me mostrasse sua corda tensa
E corrompida pelos meus invernos.

Que atravessasse calmamente
Esse mar sem farol,
Enquanto minha noite
Delineasse um poente para nós.


.

Assim, assim vivíamos...
Um dia alegres,
Celebrando o apogeu de um riso
Logo pela aurora da manhã...
Com a brisa adentrando pela janela,
Como a querer sussurrar em nossas faces:

Venha...venha viver...


Até parecia que nada mais existia,
Só a brisa e suas gaivotas plainando...
Por vezes esses momentos duravam segundos...
As vezes um olhar somente...
Uma piscadela da alma...

Outros dias acordávamos meio tristes,
Nem o canto dos pássaros nos alegrava,
Nossos semblantes lembravam a profunda
Angústia dos esquecidos,...
Daqueles que nada tem,
Nem sentimentos, nem passados, nem saudades...
Estes dias eram longos,...
O tempo cozinhava em banho Maria...devagar...
Ao fim do dia por fim despedíamos das lágrimas,
Dizíamos:Adeus não voltem mais...
Elas(as lágrimas) davam com os ombros e gargalhavam...
-viveremos juntos para sempre meu bem....

Alguns outros dias eram distantes...
Estávamos aéreos feito pipas avoadas,
Nem ligávamos pra nada,
Como se não fossemos daqui,
Vivêssemos em outro planeta,
Com pessoas diferentes, falando línguas diferentes,
Escutando melodias das arábias, com animais
Circulando pelos chafarizes das nozes...
Que mundo louco...
Estávamos loucos...

Outros tantos dias eram saudosos
Dos passados queridos,
Guardados nos diários dos risos,
Momentos especiais com pessoas especiais,
Ah como eram belos esses dias...
Assim, assim vivíamos...

noiTe

.





O longe do perto,
Ainda ficava distante,
Do infinito longe,
Num quase meio do fim,
Do início enfim que se distanciava,
A todo pequeno perto que seguia,
Deixando rastros...



Flecha da Noite

Fui retirada de meus aposentos
Quando a lua estava em esplendor de fogo.
Lua imensa, pronta para os rituais sagrados.

Banharam-me com leite
E escreveram rezas sob minha pele.
Solenes poemas de signos encantados
Para transformar as marés.

Queimaram minerais e incensos
Para os deuses adormecidos
E eles acordaram.

Vestiram-me de folhas
E amordaçaram minha boca.
Vi olhos de tenazes, fosforescentes,
Envoltos em trovões.

Uma visão atormentada de braços abertos,
Para receber um corpo incandescente.

Fechei os olhos para ouvir
O canto ondulante e embriagador da cerimônia.
Cada nota saltava contagiosa
Sob o pentagrama dos meus dedos.

Todas as coisas foram se distanciando,
Os clamores, o medo,
Até que me aquietei para receber
A flecha da noite.




.

Sonho com dias melhores...
A dor se tornou minha companheira,
E nela convivo meus dias e destinos...
Não sou poeta,
Sou mero contador da minha agonia,
Vago clandestino pelos horizontes,
Já não tenho mais passos para respirar...
Um dia ainda sonhei com dias melhores,
Estes dias não nasceram...


Entre o Céu e a Terra


Ontem descobri
que entre o céu e a terra,
Nosso amor cabia inteiro.
Vi pirilampos riscarem o ar
Escrevendo poemas.

Entendi cada palavra
Embebida em orvalho,
Riscada no céu da noite
E elas chegavam líricas.

O sal do choro era lavado
Com minha água doce,
Pois sobre ti,
Minha benevolência recaia.

Descobrimos nossa substancia
E deixamos de ser névoa adormecida.
Estávamos dentro das constelações
Como um escorpião alucinado.

Tecemos um entrelaçado de flores,
Guardando em nós o incógnito.
A cabala do vento escrevia
Nessa realidade sobreposta e perfeita,
Que entre o céu e a terra
Nosso amor cabia inteiro.



Pela Vida

Vida, peço licença
Quero amar, mas sendo livre
Desatar os nós da cabeça
Nunca padecer pelos sacrifícios
Já revoguei indiferenças.

O meu suor e minha crença
Que sangra pelos orifícios
Muitas vezes abrandam problemas
Ditos, ossos do ofício
Do ser rico e ridículo.

Vida, peço licença
Vou necessitar de uma poda
Para ser mais belo por dentro
Porque atualmente por fora
O homem está fora de moda.

Chega de deuses de olhos azuis
Quero um ser cego, não belo
Quero o arco-íris sem o amarelo
Um Deus que saiba pra onde conduz.

Sem pregos, sem egos
Sem cor nem dor
Sua sombra sem cruz.
Algo assim que não sei
Que não se mostra, não se esconde
Guiando para..... ninguém sabe onde

Vida, já passei. 

.

Sinto sede aos riachos,
Bebo-me até inexistir,
Sede seca o leito do rio,
Barro seco se desfaz,
Poeira estátua se transforma,
Às margens de mim,
Riso agreste soa,
Ao vento sede se dispersa...


Pois me ame
Beijos escarlates
Sem nenhuma promessa mais
Antes do dia amanhecer
Da noite tardar
Ou os girassóis se abrirem
Os galos cantarem
Role na cama comigo
Aqui estou eu nu
Sem abrigo
Meu teto com chuva
Os dilúvios que vem em azúis de seus olhos
Só me lembram
Desse amor, desse amor, desse amor...

Não me ame nunca mais!

Teu Serei

Ouvi sua voz que me dizia
Para eu resistir.
Suas palavras eram complexas
E diziam numa impecável retórica:

"Não desista de mim,
Mesmo que penses que sou
Apenas uma alucinação,
Que nada mais resta para contar.
Não desista, eu estou aqui.
Vou abrir-te como a uma rosa,
Dar-te os sonhos que sonhaste.
Desviarei dos caminhos tortuosos,
Encurtarei as distancias,
E quando no céu apontar a lua,
Teu será o que outras mãos
Detém agora".

A Espera

















Sabes aquela que tu conheceste
Voando ao vento?
Que te procuravas ansiosamente
Cega de amor?
Que se enrolava em teu corpo
Nua a arder de desejos?

Agora é uma sombra escura,
Cortante como lâmina,
Emissária de gritos,
Ressurgida do abismo ,
Fria como água oceânica.

Anda sempre em redemoinho,
Antecipando encontrar caminho,
A fagulha de um olhar que se perdeu,
Ainda a espera de um gesto teu.

Vestida de Sombra



Você me reconhece
Quando te chamo do vazio?
Estou abandonada nesse horizonte,
Pois fui buscar meu destino.

Ninguém sabe quem sou,
Estou vestida de sombra.

Fria como mármore,
Ando passos incertos
Contando quantas vidas já vivi.

Os fantasmas levaram meus cabelos
E meus vestidos desapareceram.
Minha alma se enche de sonhos antigos,
E alguém me sopra
Furtivas ternuras de consolo.

Estou me esquecendo de tudo.
Procuro teus olhos
Entre tantos que me olham,
Para pedir que me guies
Dentro de um coração certo.

Vejo somente um lugar
Num céu de silêncio,
E tudo se dilui nos séculos que vivi.
Deixo os abraços, os amores,
Angustias, e fracassos.

Estou dentro do barco do silêncio,
Perdida nesse tempo escurecido

Você que me tocou um dia,
Escuta-me, pois te chamo.
Afasta-me daqui,
Porque muitos mortos já me chamam.



E quando você se cansar de ler as linhas
Vá nas entrelinhas
Quando cansar de ler nas entrelinhas
Vá nas estrelas
Quando cansar de observá-las
Durma, repouse
Acorde
Faça tudo isso de novo
Modificando a ordem
Acrescente dar uma espiada em uma galáxia
Veja as vezes uma porção do nada
E duas pitadas de amor
Faça tudo isso vez em quando
Quase sempre
Rode o mundo e se descubra na mesma estrela
Ela brilhará e dirá o seu nome
Você brilhará e irá dizer:
- Tenho sede
Quantas mais aguas desse vasto porfundo posso beber

Posso

Posso ser sensível, se tu quiseres
De repente incrível, aos teus olhos
Absolutamente homem
Deliciosamente herói.

Ser inteiro amor e prazeres
Do finito e infinito
Ser teu brinquedo mais íntimo
É só tu quereres.

Mas peço em troca
Que tu seques meus prantos
Escondas meus defeitos
Esqueças minhas palavras cegas
Sejas o meu leito.

Posso ser gentil ou bastardo
Sempre estar ao seu lado
Não escreverei coisas piegas.

Por entre meus caminhos
Meus afagos e desatinos
Teu amor tu não negas.


Muralha

Construí uma muralha
A minha volta,
Completamente talhada
Para guardar silêncios extremos.

Noturno lugar
De aparência antiga,
Lugar de sacrifícios e
De juventude desesperada.

Vivi no interior desta
Cidade de arcos,
Como uma mulher de fervor,
De cândida fala.

Agora vou suspensa pelo vento
E desvio dos espinhos
Que se formaram
Nas trepadeiras aladas.

Queimo minha loucura
Nos incensos de jasmim
E sinto minha vida
Se apartando, pouco a pouco num fim.

Vejo a treva na soleira da porta.
Uma luz tênue sai de minha cabeça e
Estrelas voam ao meu redor.
Ainda tenho a ilusão de felicidade.

Derramo-me sob os degraus da escada.
Diluo-me pelas frestas das pedras.
Vou caindo para fora das muralhas,
Muito antes de viver em mim.




.

Obséquio amor...
Chega-me em devaneio,
Num lapso despertino casual,
Numa brecha repentina da rotina,
Venha-me em nuances de loucura,
Desses que se vêem nos filmes,
Venha sonhar o sonho louco que sonhei,
Numa vertigem delirante da paixão,
Num seriado de amor que eu mesmo fiz,
Com beijos e abraços sentimentais,
Com bandejas ensolaradas de risos...
Chegue a qualquer hora,
Não importa se de dia ou de noite,
Simplesmente chegue,
De mansinho num breve intervalo do caos,
Ou de rompante numa opaca tarde de solidão,
Chegue simplesmente,
Porquanto ainda os olhares procuram,
No tardar dos instantes que devagar divagam...

n
Se das cinquentas coisas que puder lhe dizer
Cinco ocupem o seu tempo
Três lhe façam procurar outras
Duas lhe sejam importantes
E vinte o suficiente
Terei de dizer quarenta
Rezando para que nem você nem eu
Saiba os porquês de pelo menos quarenta e nove

17 janeiro 2011

.

Coincidentes castiçais,
Iluminavam ao vagar da aurora,
As gramaturas de um passado remoto...
No reflexo dos olhares duas pétalas sorriam,
Estavam a flertar com os beija-flores,
Desbotando suas peles de mel azulado...
Sorríamos então ao acaso daquele passado,
Parecíamos apenas crianças brincando,
Ingênuos destinos ao vento,
Revivendo antigas brincadeiras,
Lembrando certas loucuras desavisadas,
Nossos dias mais felizes...
Já tardava no crepúsculo das alamedas,
Caminhávamos sem pressa,
Com o luar a nos acariciar,
Aquele tempo passou,
A correnteza segue seus rumos imperceptíveis,
Sem perceber,
Em silêncio,
Em devaneio...

16 janeiro 2011

Aquela que Volta


Sombras me acompanham
De manhã, à noite,
Perdidas de meu alcance.
Dançam a sutileza e o compasso
Que sai de mim.

Enganam-me às vezes,
Quando se tornam estátuas adornadas.
Bocejam disfarçando,
Cercam-se de pássaros,
Que a minha volta dão corrupios.
Sopram meus cabelos,
Derrubam minha tiara
E riem dessa falsa coroa
Que aperta minha cabeça.

Que sei eu das sombras,
Senão dessas que me atiram flores?
Dão voltas para que eu me perca de mim
E do sentido urgente
De minha passagem neste lugar.

Um dia, eu também serei sombra
E cantarei para que sonhem.
Farei voarem cortinas e
Tocarei de leve, faces e mãos.

Minha casa será o ar, o vinho
Que entrar pelas bocas.
Serei comparada à brisa,
A que se perdeu entre as estrelas.
A que sempre volta na chuva,
Que escorre nas pedras
E escreve um nome.

FIAPO


Milagre

04 janeiro 2011

Tarde Demais

O que é tarde em nós me diz
Que não quer ser.
Nossas manhãs gritam
Que está chegando à hora.
Esse andar de alma derrotada
Que se acerca de nosso caminho,
Que nos envolve,
Afastando-nos dos passos
Que fizemos juntos,
Insistem em dizer
Que podíamos ter vivido mais.

Um medo atávico de ter razão,
De já saber que vamos vazando
Num sumidouro,
Subtraindo o tempo
E o direito as confidencias,
Deixa-nos vazios.

Declarávamos de forma tão exata,
Um amor que queria morrer junto,
Mas que agora espreita o resto do dia
Perdido dentro de pequenas coisas.

Sei que necessito do eterno,
Das descobertas dentro da pele,
Mas estou indo embora.
Sinto no rosto a derrota e
Uma ventania desfigurante.

Refazemos nossas horas
Todos os dias e elas são efêmeras.
A alma não está mais aqui,
É qualquer coisa de sombra,
De lugar vazio que não volta.
Qualquer coisa de nós dois
Que não existe mais.

Por Dentro




Longe de mim
os encantos,
longe, tão longe!
Infindáveis idas e vindas, 
agrestes,
diáfanas pontes.
Translúcido tempo de heras...
Carcomido exalo ao relento,
sóbrio, perspectivo, atento.
Cobri-me de algas
por dentro,
comi-me, fui vento.
" Só sei que nada sei"
Eu que não sei quem sou
Se amo ou se amou
Só sei que não sei
Quantos nãos e quantos sim
Quantas partes desconvexas
Entrecortadas, tristes, palmilhadas
De mim
Só sei
Que nada
Nada sei, sei que nada
Nada serei
Se pensar
Que nada sei
Pois sei muito
Nada sei se sou pouco
Sou muito, muito muito
Muito pouco
Mas sou alguma coisa
" Só sei que existo"