26 março 2011

Endecha para Outono

Via dolorosa, um pequeno sonho
Apenas outro ferimento
Que cicatriza através do tempo

Eu morrerei sozinho
Eu carregarei meu fardo
Eu me drogarei
Quero perder a minha consciência

O universo vazio
A humanidade perdida
Os círculos de medo
O fracasso eterno

Como um desejo morto
Que invade minhas veias
Minha alma dolorida
Ensanguentada

Entorpeça-me
Neste nosso novo desejo morto
Quero encontrar conforto
Em seu sorriso assassino

Estou faminto
Por estrelas reluzentes
Nascidas
No jardim rubro de teu sangue

Por vida
Que se perdeu
No outono de minha alma.

Lugar de boas lembranças

Papelão, um pouco amassado. 
Jogado ao chão, até parece inutilizável.
Pego, dobro.
Desdobro, viro ao avesso.
Faço.
Uma linda caixa, sem cor.
Nela escrevo versos intermináveis traçados em paralelos.

Versos de letras, desenhos ou simples traços.
Versos mudos, calados.
E nele me inspiro, mas entrego a magia.
Magia, espero que se expresse por mim.
Já desisti.

Eu fiz uma caixa.
Que nela guardo todas as boas lembranças.
Pintei de vermelho e a chamei de coração.



20 março 2011

.



Não me guarde para sempre

O sempre não existe,

Não esta em cada esquina,

O sempre um dia morre...

Leve-me para outro lugar,

Para um longe distante pitoresco qualquer,

Onde eu não me veja simplesmente de boca aberta,

Com meus dentes cariados a sorrir,

Quero conhecer o inexistente...

O vento tarda o crepúsculo dos sonhos,

Estava feliz com meus obséquios,

De longe via os etecetaras em suas lamúrias,

Flertando umas consoantes solitárias...

Bola 8

Soletrando
a fome de versos
é pão,
a fruta que apodrece
é coração,
a dose que entorpece
não se diz,
se rala,
por amor
ou
por paixão.

Palavras Encrespadas

Se eu pudesse escolher o caminho,
Seria a medida de nossas mensagens.
Salamandras evocadas do centro da Terra
Viriam contar as tuas palavras encrespadas,
Se desintegrando pelo espaço
Numa atmosfera surreal.

Eu descobria lentamente o poder do choro,
Os olhos sendo arrancados e jogados
Num abismo de sal e esquecimento.

Eu iria até onde a atração dos corpos
Tem o poder atômico, e invocaria
Os deuses obscuros para te trazer.

Ergueria a mesma taça palpitante de sonhos,
E pediria teu retorno ao rito mágico
No centro de meu corpo.

A ronda das noites seria para deixar
O meu leito coberto de assombros,
E depois me acender com tuas mãos.

Mas ainda tenho uma rajada de evocações fúnebres,
E tua ausência falando de impossibilidades dolorosas.
Mesmo assim, atravessaria todo o deserto
Pronunciando palavras sacramentais de busca.

Entraria nas regiões agonizantes,
Para ter de novo o esplendor de tuas palavras doces,
A tua ternura errante que flutua,
E flores brancas de perfume.



Eu queria apenas te dizer
Que escrevia tanto
Porque é tanto
E eu não sei como descrever

Por isso tento como posso
Amarro a trama
As vezes dobro o papel
E amasso

Não é por algum disparate
Ou ordem social
Levante moral
Ou tentativa leviana de burguesia tardia

Meus versos não falam por si
As vezes tenho que os gritar de mim
Porque muito deles
Sou eu mesmo que fiz

E os belos
Talvez os mais duradouros
E menos efêmeros
Sejam os que falem de ti

Você que é tão sem nexo
Que acentua sempre os circunflexos
Não se perde em qualquer parábula
Foi achar uma função para mim

Isso eclode na praia
Mesmo que muitos dramas
Faltem talvez as tramas necessárias
Para ser algo tão sofisticado

Não faço versos modernos
Alguns versos meus
Acho que até já nascem mofados
Ai, pergunta-me, a vantagem?

Nenhuma...
Faço versos feito pluma
Não quero odes, ídilios, não quero sossego
Não quero guerra que me martirize

Faço palestras, corro nas arestas
Brilho sem rumo
Saio sem prumo
Procurando o que fazer

Talvez dê aula na praia
Ou ensine os meninos da Somália
Fale com o filho da Ananda
Volte em um onibus para Ruanda

Enquanto isso, com isso
Sou eu
O unico a perder
A vencer

Eu não protesto
Porém não fico parado
Sou marchista dos anti pelegos
E pelego dos marchistas

Uma vez me hastearam a bandeira
Disse a eles
Mas nem se fosse, a de Manuel aceitaria!

Já disse
Não sou modernista

Já disse
Não sou modernista

Já disse
Não sou pós, pós modernista

A gente escreve versos sobre o nada
Mas será que realmente
O todo interessa tanto assim?

(Para isso serve o cinema, oras...)

E nossa vida é mais interessante que um filme

"EM DIA DE POESIA"

Meu compromisso
não e contigo.

É com a memória dos poemas!
É com as palavras que já esqueci!
É com as velas de todos os barcos
em que não parti!
É com os murmúrios do vento
e com as preces que não rezei!

Eu,
que ansiei a opulência
dos beijos
me quedei em omisso
compromisso com meu corpo

O Nada

Sou o nada
Que rasteja através de sua sombra
Aquele que foi deixado para trás
Apagado
De suas reminiscências pronfudas

Sou aquele borrado
Eliminado de suas lembranças
Eu era aquela sua palavra vaga
Seu sonho esquecido

Eu era o seu sol
Levantando-se através do nevoeiro
Seus pequenos devaneios sóbrios
Apenas dizendo adeus

Sou o seu nada
Absolutamente transgredido
O seu estranho mundo novo
Com as portas abertas

Seu vazio interno, sua voz sem ação
O vazio de seus olhos
Aqueles que fazem você
Enxergar a sombria luz da lua

Sou aquele, ajoelhado em sua frente
Com a boca aberta
Esperando você derramar
Seus sonhos dentro de mim

O nada é o seu final
Em meus braços abertos
O nada é a cura
Para os seus passos cansandos

Você é o meu desejo profano
Quero ser o seu nada
Perdido em sua essência mais sombria
Encontrado, em sua virtuosa honra

Eu poderia ser tudo o que você vê
Eu poderia ser tudo
O que você quisse-se que eu fosse
Eu poderia ser um nada

O seu nada...

à Celina

Os teus olhos buscam
Dois mundos imensos
Que você mastiga
Nos fins do teu sorriso

Como se o infinito
Ou a estrela mais brilhante
Pudesse dizer mais que o momento
E no fim das contas dizem

Os teus olhos se tornam
Dois mundos imensos
Que se fecham e nos juntam
Nos fins do teu sorriso

Como misturam-se noite e dia
Na espera do pôr-do-sol
Como não houvesse nada mais belo à ver
E no fim das contas havia

Celestes corações



Dois voláteis corações,
duas buscas por frações,
monoblocos bipartidos,
sondas loucas, largas
e profundas
em corpos indefinidos.
Sangradouro de paixões,
celeiros de uma alma rouca,
bruma,
posta celeste 
de luzes 
e de chamas,
atrito,
faróis de algum destino.





"APAGARAM-SE AS VELAS"




À noite já não se acendem
as velas no teu altar
e assim,
nos vamos morrendo
em corredores de silêncio
onde a lembrança
é como um punhal
subitamente espetado
no coração da esperança


Sem Sinal

A mínima incerteza sobre o teu corpo
Dentro do espaço atormenta-me.
Penso em reinar sobre o teu nome
E te incendiar com os meus olhos.

Tornei-me uma voragem
Quando perdi o teu sinal e mergulhei
Na cratera desse vulcão extinto.
Construí ardis para te ter,
Mas escapastes pelas rasuras do éter.

Ainda somos um traço sutil na parede,
E retornamos no traçado do tempo
Para olhar a tempestade formar relâmpago.

São eles que cortam todos os sinais
E me deixam desesperada.

Procuro esquecer-te, mas retorno ao engano,
Acendo o dia com um sol apagado,
Procuro cansar-me de sua falta nos meus dias,
E digo a todos que não te queria.

Mas quando chega à noite,
Eu só quero que volte o dia.

No quintal do meu inconsciente
estão ainda por dizer
as palavras e as confidências
do tempo em que era possível
brincar sonhos sem cadeados

Lá onde a liberdade
era uma cálida festa de Verão
e a emoção se soltava
impetuosa de nossos dedos

Havia pólen nas tuas mãos
que o tempo espalhou no vento
temo o fisco da morte
degrau a degrau e tão lento
como a eternidade
olvidada em qualquer momento

Apenas e... indelevelmente
.

Silêncio

Amor na Sombra da Noite
Celso   Prei

Ouça, meu amor o silêncio,
Ele ondula nesta noite.
Desde o mar que é teu lugar,
Até as cercanias de minha cidade.

O silêncio espesso e sem direção,
Avia-se em asas e sai numa
Atmosfera nebulosa, quebrando os ossos,
Levando o sobrenatural de mim.

Segue levitando até o seu mar,
Porque quer ficar na perplexidade de ti.
Está enfeitiçado e empurra as águas
Para nos juntar num mesmo lugar.

A lua olha com ternura
O passeio do silêncio pela noite.
O vento sopra o ar que sai de mim
E eu sou arrastada por caracóis anelados
Que se enroscaram em meu vestido.

Reclamo da distância, do sereno e da nuvem gris.
Sigo os pássaros que migram
Em compridíssimas caudas de penas
Pela sombra da noite.
Eu e o silêncio chegamos na fronteira,
Mas ainda estamos sozinhos.


As vezes eu sinto o badalar dos sinos
Como se fossem soluços
Antes do findar do sol vêm
Antes que eu reze e diga: amém

São astros pequeninos
Que invadem com a sua ressonância
Um grossa camada de inconstância
Deixando-me sempre tão altivo

Hoje sinto melhor
Esse soar taciturno
De tantas horas diurno
Que invadia quartos cheios de imagens

Lá dentro

Quantas fotos tuas
Quantas fotos nossas
Promessas feitas e tantas sutis desfeitas
Em um peito de aço que ressoa longe

Uma outra vez dizia aos meus anjos
Que pudessem cantar uma vez os arcanjos
Glórias tão antigas
Como essas duras e tão doces batidas

Eles me entregaram um amor
Algo cheio de bandaids
Feito, refeito
Soado, suado, dissonante, soante, suante

Fiquei tão feliz
Abri os braços, como o fiz!
E num toque sutil
Tu badalaste as manhãs e noites que nunca quiz...

MULHERES

Mulheres Protestando
Di Cavalcanti



Mães!
Amantes
úteros palpitantes
de vida e de alegria

Mulheres
operárias, camponesas
na luta do dia a dia

Mulheres musas inspiradoras
poetisas e escritoras
escrevendo com sangue 
seu espaço
entre os eternamente vencedores

Mulheres da vida
à beira da estrada
Vencidas, castradas
Vendedoras de amor

Mulheres da noite
como madressilvas
desfloradas

Usadas, abusadas
e lambidas
com coroas malditas de pranto

Mulheres esquecidas
em camas sem amor
onde da vida o encanto
é apenas um sonho de horror.

Num mundo onde o sonho pula e avança,
Mulheres-Mães!
Mulheres-Amantes!
úteros de vida e de esperança.


A árvore dos corvos
Caspar  David Friedrich

Nas mangas das suas camisas
Tão frio e gelado nosso dia
Descobri uma leve harmonia
Que há tempos não sentia

Foi quase que de repente
A gente mal se sentia, a gente
Passeava passos livremente
Com doces pérolas entrecortadas aonde já não sabiamos

O café tava quente
Nosso dia, nossos corpos
Frios!

E nos abraçávamos!
E nos queimávamos!
Se em carvões antigos ascendendo máquinas peritas
Nós éramos corpos esquecidos
Com chamas imensas
Que fazia tempo
Muito tempo
Esperávamos alguém para simplesmente
Queimar e queimar
Nesse frio de outono
Que ocorre em todos os marços de minha retina

08 março 2011

FIAPO



.


Vejo máscaras sorrindo
A tarde recai pelos horizontes,
Meu olhar se perde em redemoinhos...
Logo chegariam as andorinhas,
Fazendo suas estripulias normais,
E eu sonhando em fazer uma letra de música...
Não sabia muito como seria a melodia,
Acho que com cinco acordes estariam bom,
E muitas letras,
Diferentes, conflitantes, ou banais...
Importante que seja uma música,
Para cantar quando partires,
Em tom melodramático, 
Triste, bucólico até as raízes,
O musgo cobrindo o corpo de tempo,
Uma lágrima esvoaçante sendo
Levada pelo vento para bem além
Da cerca de madeira caiada...
Para cantar baixinho nas horas de solidão,
Sentado na varanda da velha casa,
Olhando na distancia do caminho das acácias,
Imaginando você chegando dando pequenos 
Pulos pelos punhados de folhas caídas...
Para cantar quando retornares,
Com seus broches de madre pérola,
E seus bocados de risos,
Por certo será noite de lua cheia,
Com o luar a iluminar suas carícias,
A percorrer nossos corpos de saudades...


Entregue-se ao Esquecimento



Minha humanidade
Foi extinta
Pela sua respiração
Ela foi apagada
Logo depois
Que você foi embora

Estou preso
Em um quarto frio,
Escuro...

A morte
Esta vindo aqui
Me buscar
Por todos os meus erros

Ela chegará
Esta noite
Assim como ela veio para você

O meu desejo
É que ela
Possa me levar daqui

Me entregar aos braços
Do esquecimento
E que eu me apague
Em seu peito

Este é o desejo
Que me consome
Que me devora

Quero ser entregue
Ao esquecimento

No qual eu simplesmente
Possa desaparecer...

Que eu possa
Abraçar a minha alma
Cobrir suas rachaduras
E deixar para trás
O tormento que foi viver... 


"AMOR CEIFADO"



Ausente estarei
aqui onde estou viva,

agora que morreste
já não bate
meu louco coração de euforia

Não mais ajoelherei 
no altar onde corria
o sangue como rio
além da vida.

Só te peço por este amor ceifado
a memória de mim
lá onde o sentimento
já não pode mais morrer 
nem sequer ser 
de novo abandonado.

07 março 2011

Tempo de Euforia


Segunda
eu segui a estrela
que na terça
esperava a quarta brasa
virar cinzas.

Na quinta
lá da Boa Vista
vi que a cesta não estava cheia.

A estrela
se perdeu da guia
e feito poesia
desfilou pelas entrelinhas
nos dias que também são feira.

Já na sexta-feira
eu aguardava aflita
o sábado que jurou viria.
Só domingo
de porta bandeira
desfilei na ala
da estrela guia!



PALAVRAS

Palavras são como hinos
feitos poemas!

São emblemas
estandartes da emoção
todos os dias castradas
com ou sem razão!

Há um silêncio de catedral
em cada palavra
esculpida de riso e de lágrimas
quando a manhã acorda
despenteada pelo vento,

Como se o sonho
despertasse o espanto
ferido no limiar de cada manhã.

Enquanto elas,
as palavras
doem na fronteira
das limitações
como estilhaços
ou poeira vã.



Espelhos retrovisores povoavam
Meu jardim de esquisitices peculiares,
Gostava de ver os reflexos no horizonte,
Ficava observando os paradoxos daquela gente,
Cada qual em seus passos paulatinos rotineiros,
Uns indo ao bar com suas promessas esfarrapadas,
Outros beijando seus amores na despedida
Trivial...
Em todos via a fragilidade das solidões
Margeando seus olhares,
Por vezes alegres como pássaros nas manhãs
De sol apogeu...
Por outras tristes como a flores esquecidas
Na soleira do cotidiano...



Rio de Janeiro a Janeiro



Agora vou me exprimir! 
Saudade quando acordo e vou dormir! 
É difícil acostumar-se em outro canto 
Falo do calor abaixo das "asas" do Redentor! 
Nas curvas do seu manto 
Como ondas de beleza e louvor! 
Perdoe-nos... 
Eu e meu pranto! 



06 março 2011



O caminho luminoso
Brilhando, por você agora
Abaixo das montanhas
Abaixo de nossas estrelas

''Admitir, foi o melhor para nós mesmos...''

Aceitar a luz
E sangrar pelas nossas mentiras

A última gota de chuva
Que cai sobre a escuridão
A verdade fria
Amor e sofrimento

Aceitando uma verdade
Aos olhos luminoso
Entregando-se ao esquecimento

Caminhando sobre os portões do firmamento
Aceitando a sua partida
E seguindo, esta minha luz.


Espessura da Noite



Quis evadir-me daquele momento,
Tentava fugir da atmosfera de pânico
Que o tempo trazia.

Fui suplicante com as horas,
Eram pródigas de bons conselhos,
Quando lhes pedia decisões.

Entre os minutos, uma ponta de amargura,
E o período de estagnação dos segundos.
Passado o tempo de espera, ele chegou.
Crepúsculo invasor do horizonte.

O poente refletido em meus olhos,
Pupila de veludo negro fecha a cortina
E o turbilhão invasor entra.

Tudo ferve na penumbra,
Treme as paredes, os ladrilhos se soltam,
Porque corpos sonolentos
Debatem-se na espessura da noite.

 

...



Afagos sutis secavam ao varal,
Aguardavam o chegar inesperado,
Pelos becos mornos da tarde,
Da moça dos penduricalhos de mel,
Trazendo suas receitas de amor,
Para deleite dos meninos,
A sorrir simplesmente,
...


[[sem título]]



Almas caem do firmamento
Enquanto núvens escurecidas
Cantam aos céus
Com os seus trovões
Enquanto seus relâmpagos
Iluminam nossos mundos

Desbravando a terra
Enfurecendo o mar
Embates psicológicos
Destronam nossas mentes inquietas

Pobres de espírito
Mentes pequenas
Sonhos confusos
Mártires universais

Fantoches de pano
Em poder maior
Uma salvação esquecida
Presa...
Dentro de nós mesmos.



.



Ou 
Tu
Por 
Mim
Sorri em devaneios loucos
Profundos,
Reais
Ocasionais...
Ou 
Eu
Por ti
Entristecerei em lágrimas paridas
Avulsas
Silenciosas
Outonais...
Ama-me
Amo-te
Em todos sentidos contidos
Em todas faces segredais 
Em todas olhadelas de malícia...
Delicias afins
Beijos sutis
Abraços serenos...
Ao cair da tarde,
Ao relento da noite,
Ao florescer da manhã,
Simplesmente,
Assim...


De Vento em Popa

Caindo na real 
Buscando a porta de saída
Tirar o espinho da rosa
Tendo alguma chance ainda.

Uma caminhada de vento em popa
Só faltaram as velas
Ganhou tudo até as roupas
Não via mais graça nelas.

Queria o complemento mais puro
Amor, atenção e paz
Nada de contentamento obscuro
Jazigo é você quem o faz.

Infidelidade da imaginação as avessas
Criação natural de fantasmas
Vagueiam por uma mente ativa e criativa
Bicho de sete ou oito cabeças.

Sem paradoxo nenhum
Emite, omite a realidade
Flexibilidade de jeito algum
Inadequação de uma idade.

Sem valor mesmo que seja ouro
Um tesouro no mais profundo oceano
Desengano que lhe arranca o couro
Um dia que tem duração de um ano.

Avaliação do inenarrável
Sustenta sua forma mais impura
Uma violência cruel mas amigável
Realidade que virou conjectura. 


Lavra



Lavra e abre os sulcos
da tua alma 
sem clemência dos cortes
da navalha,
enobreça com a calma
de quem ama sem rancor.
Nada levas,
nada deixas
a não ser o teu calor,
marca indelével
que no tempo não escoa,
que fica, 
entre as fibras
do coração das pessoas.

 

"DESPERTAR"

Súbitamente
um pedaço de lua
acordou
o meu corpo noturno do sonho!

Agora
eu já sei como nasce a alegria
que desliza entre o vento
como barcos de papel

ou como a tristeza
que te cerra os dentes
num grito calado
feito eco chorado de riso
como os palhaços

Entre um e outro
sentimento

um pássaro
corta o espaço

com saudades do céu
 

Watermelon in Easter hay