20 fevereiro 2011

"CANTO DE PARDAL"

Canta sim
que teu cantar tem o encanto
de um mágico
no espaço sideral ou siderado
no canto mais afastado

desse universo distante
de enganos
ou de mêdos
onde às vezes os enredos
sobressaltam as verdades

Canta sim
meu pardal que foi amante
e amado se partiu
num regresso
ou num verso
que apenas se fingiu

Saudade.
Kandinsky


Não gosto da poesia
Sem nexo
Sem sexo
Poluída

Não gosto da poesia
Sem dor
Sem fulgor
Amor

Não gosto da poesia
Sem cortes
Sem pobrezas
Cortezias

Não gosto da poesia
Sem banalismos
Sem fatalismos
Cem abismos!

Não gosto da poesia
Sem lastros
Sem calibre
Bala sem destino

Não gosto da poesia
Fim da linha
Começo dos fios
Gosto dos novelos

Não gosto da poesia
Bola pra cima
Bola pra baixo
Gosto de bola nas redes

Não gosto da poesia
Esportiva
Amorosa
Patativa

Gosto do Patativa
Gosto do Amor
Gosto dos Esportes
Não gosto da poesia

Em específico
A minha
Não gosto da
Poesia

A poesia
Náusea
A poesia
Tédio

A poesia
Bossa
A poesia
Sacrilégio

A poesia
Alegria
A poesia
Banho

A poesia
Tosa
A poesia
Chuá Chuá

Não gosto da poesia
Patética, epilética
Aquela que vem
Em pequenos goles

Não gosto da poesia
De palavras fugidias
Remetem ao nada
E me perco no horizonte

Não gosto da poesia
Que quer ser mais do que
Simplesmente uma
Poesia

Não gosto da poesia
Que diz sobre mil orgias magias
E depois nos outros versos
Uma lenta utopia

Não gosto da poesia
Da falsa ficção inventada do dia a dia
Quando no dia a dia
Não quero me desvincular do meu travesseiro molhado

Não gosto da poesia
Quando ela de mim desprendida
Dá margem a outros sonhos
E deixa os meus à solidão

Não gosto da poesia
Quando assasina uma margem
Fico assim na beira do nada sem saber
O que colher, o que escrever

Não gosto da poesia
Em seus frios dias a dias
De esperar a lenta agonia
De saber o que fazer

Não gosto dela
Quando vem de mansinho
E no meu ouvido recita coisas tais como
" Sei que você chora
Porque chegou ao fim
Mas digo chore por mim
Chore por mim
Eu chorei tanto
Por você"

Não gosto da poesia
Minha negra e vermelha escura chaga
Que bate apertado feito martelo
Nas coisas que nunca previ ser

Não gosto
Mas não sei se ela
Ou eu
Me escolher a ser

Não gosto da poesia
No meio de tanto poeta
Não sou poeta
Pareço"cristão"
É que aquele tinteiro
Chamava a caneta
A caneta bailava sobre o papel
Girava sobre um pêndulo triste
No manicômio de nossas máquinas
Correções de branquinhos que escrevem
Palavras em brancos fortes
Retas
Com propósito
Levitando tudo com o pesar dos males dos reais obscuros
O armário
Dedos e dedos pendurados
Sobre os materiais guardados
Que não queriam sair pois havia um medo que enrustia o rústico
Plastificava o plástico
Desmitificava os santos mitos
Tetos de granito
Marca texto que grifam inferno
E são amarelos
Não são vermelhos
Nossas linha é azul
Devia ser roxa
Toda essa tinta esparramada é dessa cor
Cor das beringelas misturada com a imensidão dos mares
Pares opostos
Que a gente nunca via
As metades das maças
As metades das peras
O tinteiro que na ansia de escrever
Ria do lápis
Pois o lápis sim
TInha remédios
Tinha a santa mãe borracha
Que não o deixava
Ser profana
Já ele não
Ser tinteiro
Já se coagulava caneta
Assim se fazia esperto
E nos almaços dessa vida incongruente
Saia dono de si
A espalhar a noticia nesse vago mundo
Eres um filho da civilização
Que espalha a sua própria violência
Pelo seu própria mundo
Pela sua própria devassidão
Não poupa a palavra
Não poupa as anáforas
Come metáforas
Devora hipérbolas de muito nada
Usa de formas defloradas
Anacronismos, passadas
Caneta filha pródiga!
Do tinteiro!
E essa vontade sub humana
De se tornar aço
Pra que nenhum almaço
Seja invadido
Por gotas de cristal em seu vasto azul, vermelho, verde litoral
Nessa e outras
Feito muleque que brinca no balanço
E volta e meia me canso
As palavras acabam
E a caneta sobra linda, mas sem vida
O tinteiro sobra sem vida
Mas como base
Eu como corpo
Completo e multiplicado corpo de diversas e infinitas fases
Que vê apontadores
Lápis afiados
E borrachas para todos os males
Procuro em remédios
Talvez o mal para um
Que me seja o sono
Não ganho o ônus
De produção alguma
Sou meio que
Um tinteiro
Que escreve a lápis
E minha consciencia
É uma borracha maçiça

.

Quando o dia chegar,
Não me diga nada,
Teu silêncio me dirá o bastante,
Não verei mais teus olhares pelos varais,
Tua xícara estará vazia na mesa,
Teus bordados estarão espalhados pelo chão...

Quando este dia enfim chegar,
Não tente me explicar,
Saberei compreender tua lágrima,
Peço-lhe somente que me deixe adormecido,
Por certo estarei sonhando com você,
Talvez nem desperte mais...

Se pelos acasos da vida,
Num certo dia estiver passeando por perto,
Não deixe de me visitar,
Deixarei a porta da frente aberta,
Colocarei na vitrola sua melodia predileta,
Que aprendi a gostar nos intervalos da solidão,
Verás que sua xícara ainda estará servida,
Lembraremos com saudades daqueles tempos,
Riremos choraremos,
E ao final lhe pedirei...
Não diga nada
Deixe-me pensar que retornaste para sempre,
Deixe-me acreditar que nunca partiste...



.

Passados os tempos,
Restava-lhe na boca o gosto
Amargo da despedida...
Alguns cães perambulavam
Pelas lanchonetes,
No bolso pequenos rabiscos,
Frases náufragas que escrevemos
Ao sabor das doses,
Entre beijos e afagos,
Pessoas se aglomerando em clichês sujos,
Embarcando nos últimos trens,
Despedidas encontros desencontros lágrimas perdidas...
Talvez retornasse talvez nem chegasse a partir,
Sonhos da saudade sentida na véspera,
Não vá, fique...
A súplica ecoava pelos corredores vazios da madrugada,
Somente alguns mendigos dormiam sob os bafos úmidos dos exaustores,
Mas nos primeiros respiros do sol partiste,
Ainda fiquei lhe vendo pela janela...
Momentos afloraram a lembrança,
Como num filme antigo você acenava e mandava beijos,
Sentei num banco enquanto o trem sumia na neblina,
Nunca mais a vi...
Guardo no bolso as frases daquele dia...
"juntos em passos seguimos sem olhar o passado..."
"você é meu anjo, e nunca existira a palavra adeus..."
Lia relia...o trem das seis já partia...



.


Resta uma aresta,
Ainda...
Flamulando olhares,
Pelos esboços dos lábios,
Esquecidos ao relento luar...
Queria você nos espelhos destas lágrimas,
A perceber-me distante,
Contemplando solidões...
Teu chegar a passos de rima,
Amanheceria meu desjejum amante,
Tatuando de temperos sutis,
Minha pele agreste de amor...
Fazendo aludir os risos,
Entre sonhos e segredos,
Ainda...


DEL POEMA

Solamente la luna sangrando violada
en las holas del mar imenso
en tu ausência alada

el vuelo de las gaivotas
los ojos secretos de las panteras

Pero tan leve partiste
se quedando en mis manos
el perfil sin tiempo de tu rostro

entonces, yo clamo
por las mananas
de tu cuerpo de fuente


Juntos

Alguém lançará uma flecha no meio da noite,
E será vista caída num deserto.
No centro dela estaremos nós.

Nela, recuaremos o instinto de viver
E nossa intimidade
Será acolhida pela terra.

E será insuportável esse tempo de dor
E o extravio de nossa carne para o barro.
Aves bicarão nossos olhos
Engastados numa face sem espírito.

Instantes frágeis e arrebatadores
Como uma música noturna
Nos levará em levitação.

Olharemos um para o outro
E estaremos etéreos
Dentro de um obscuro tempo.

Nos despediremos
Para sermos recordação
De uma vida intensa e breve.

Seremos colocados em uma única urna.
Lacrarão o ataúde com beijos de amantes.
Cântaros de cânfora entrarão em nossos corpos
E bálsamos de flores escorrerão sob nossa pele,
Deixando uma idéia de aroma distante.

Ouviremos um murmúrio de rezas
E nuvens luminosas irão abrir o céu
Nos mostrando o silêncio.
Entraremos de mãos dadas
E juntos beberemos o sumo da eternidade.

Estaremos num caminho de algodão e estrelas,
E quando eu chamar o teu nome,
Lírios se abrirão e teu rosto será divino.

Depois de conhecer o sobrenatural,
Ficaremos ali, no âmago pontiagudo
Daquela escuridão visceral.
Deitaremos juntos numa cama de nuvens ondulantes
E aspiraremos novamente o ar do renascer.


Rachel

De todos

Queria a poesia mais que macia
E uma que não fosse só minha
Tivesse um risco de cada um
No lugar que desejares

Os césares
Uma parte do título
Aos belos
O miolo do mais lindo

As encantadoras
Os inícios arrebatadores
Os fins dilaracerantes
Prendendo ou desprendendo o ritmo inebriante

Aos parvos
As conexões de tudo
Como se não fosse preciso
Esse papel de catadores de lixo, catadores de estrofe

Queria um poema pra ficar marcado
Mais do que tatuado
Ou pixado em um canto qualquer

Versos sabotados
Talvez até um pouco, muito
Caducos
Caindo pelo o que não sabemos mais dizer

Um, ou dois
Três tercetos
Depois quatro estrofes enormes
E o final que nos apavore
Que nos faça dançar
Ou pelo menos
Dar as mãos

O vício

É que me faz aportar seus mares
Incendiar seus olhos
Congelar tuas tristezas
Eclodiar à meia noite nova madrugada

Por amar você demais
Sinto que cada dia sou capaz
De me viciar em nunca dizer: jamais
Cuidar de te ter em te perder

O vício de suas marés
A torturante carne de suas carnes mais aprazíveis
E um veneno latejante que sugo até a ultima gota

Por amar você demais...
Por te ter sempre por perto
É um vicio que eu quase, quase chego a me sentir

Completamente desperto
De todos os vicios
( Tirando o teu
)

"IN VÉSPERAS"

Era teu nome
uma véspera de amor
e de anseio
como um pássaro
aprendendo a voar no meu céu
ou
uma fruta tropical
sonhada num país de Inverno.

Secaste as fontes
no corpo amortalhado
das palavras

Das palavras sem asas
cegas, sem voz e sem
horizontes
Quando eu te perdi
Eu te achei
Quando eu não te busquei
Eu te achei
Quando eu quis te matar
E não matei
Eu te achei
Quando eu quis te amar
E não consegui
Como amei
Quando eu fui embora
E sai
Eu te achei
Quando fui tão longe dai
Eu te achei
Quando nunca mais falei com ti
Eu te achei
Quando o silencio falou logo ali
Eu te achei
Quando pensei em fugir
Perto de ti
E não o fiz
Eu te achei
Quando na pronfundidade do lago
Com os pés e a cabeça no nado
Pensei não há mais aqui
Longe dai
Eu te achei

Nas horas curtas
Na ansia infinita
Nos desejos que se consumiam

Quando não pensava mais em você
Deu pra ver
Que já não era pra ter
Mas eu te achei
Te consumei
E depois de consumado
Consumei outra vez
Coisa de bicho capitalista que somos

Quando as ruas já não falavam
A língua mineira
De sua pátria mãe
É que eu te achei

Quando as moças nuas
Já não habitavam
A casa escura
Da esquina da Avenidade ipiranga com a São joão
É que eu te achei

Quando os padres moços
Fizeram estátuas
E eu fiquei paralizando pensando
No que será que a gente pensa tanto a não ser
È que te achei

Achei sem achar
Com pesar e sem pesar
Achei perdendo
E quando pensei em ir
Ir namorar
Ir matar
Ir saciar
Ir beber da tua fonte divina
Não o fiz
É que eu te acharia mais
E mais
Desse jeito sombria

Fios de roupa
Retalhos

Minha poesia acabando a linha
É que quando os novelos eram bordados
As roupas
Tinham o seu rosto
E eu te achava
Em tudo
Em nada

Você foi o maior caso dos amores mais sérios..
lalalalala
E todas essas baboseiras todas
Te achava em tudo
E mesmo assim
Ainda não quero você do lado de mim

Na chuva...

De capa
Sob as brumas
Torrencialmente
Embaixo da chuva
Meu corpo não toma a água
Não sente a água
Não cheira à água
Chorando porém
Ela invade a minha alma inteira

Hoje vou ver ela

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
E me armo de aço
Não sai do compasso
Com tanto desembaraço

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
E me jogam redes
Escapo de todas peixe que sou
Implorando à Iemanjá um pouco do teu amor

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
Os mundos cálidos
Os calíbres pérfidos
As marcas de tiros são me lembram as suas marcas

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
Teus cheiros
Exalam o néctar do zangão com o mundo que deixei de ser
Por sua causa, doce flor

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
Dias implausíveis
Inconsumíveis
No talhe do manjericão

Hoje vou ver ela!
Hoje vou ver ela!
Tocar um bom bolero
Viajar numa boa salsa
E nos delírios dos sonhos mais sutis

Hoje vou te ver
E nada mais me importa
Bem devagarinho
Assim vou vivendo
Mais uma vez recolhendo
Pedaços caídos, pendurados,
Destroçados
Montando quebra cabeça desvairado
Felicidade a conta gotas...

"TATUAGENS"

Me perseguem memórias alardes
ou silêncios.
engrenagens no tecido
de minh`alma sobrevivente
tatuagens a seda e a jasmim
que enlaço com a fome de mendiga
no tempo incandescente do aço
dum velho calendário esquecido
algures lá no sótão onde os fantasmas
fazem festas de saudade por entre o frio
vazio, tão vazio do meu abraço


.

Éramos absolutos,
Vivíamos livres pelas ruas,
Bebíamos nossos medos,
Fumávamos nossas angústias,
De quando em quando amávamos,
Sonhos doidos, devaneios surreais,
Desses que a sociedade rejeita,
Por serem "fora do sistema"...
Ríamos deles, dizíamos...
-Danem-se os sistemas e suas faces certas,
Éramos rebeldes em demasia,
Rudimentares prolixos,
Amantes dos submundos,
Onde deixávamos nossas pegadas,
Em papéis de embrulho,
Para tempos depois
Chorarmos os descaminhos que percorremos,
Não por tristeza,
Por simples saudades...
 

Um Instrumento para a Cura Universal

"

.

Achei meu cérebro pelo chão,
Talvez tenha caído na quarta,
Ou foi naquele tropeço da segunda,
Logo pela manhã aos acordes do desesperador,
Ou despertador como queiram...
O fato é que o meu cérebro estava ali,
Jogado caído num canto,
Entre a porta e o bidê...
Percebi um certo sorriso,
Creio que estivesse feliz,
Fiquei pensando...
(pensando que pensava),
Sentia-me meio oco,
Nenhum pensar a vista,
Nada...
Podia sentir o eco do vento passando...
Até minhas lembranças emudeceram,

Alguns espaços vazios surgiram
O tempo passou,
O vento passou,
Tudo passou,
E o meu cérebro não mais voltou,
Mandou um bilhete pelo correio,
Dizia que estava viajando,
Que retornaria algum dia,
Talvez...(com reticências),
Confesso que tenho saudades dele,
Nunca mais o vi,
Nunca mais pensei...



19 fevereiro 2011

.

Deixo-me...
Talvez nem tenha
Chegado a mim,
Ou a qualquer outro,
Sentido, sujeito, coisa...
Cadê meu eu?
Que não encontro num riso mais,
Não percebo numa fragrância qualquer...
Por onde vou..
Se os horizontes são tardios,
E os amores silenciaram?
O indecifrável ronda meus passos,
Calejados de andar por lugares nenhuns,
Então me vou...
Por onde vim,
Tão perto de mim...
Tão longe de você...
Diga-me...
Teus risos ainda florescem ao amanhecer?
Lembro-me assim de você...
Na distância nua de seus passados,
Na percepção crua das manhãs...
Ainda estás por ai?
Naquele dia eu já não estava mais por lá,
Havia saído de mim,
Deixei-me...
Fui encontrá-la em lugar nenhum...


Por Amor

.

Lhe pego em pedaços deste olhar,
Nada mais do que isso,
À compor meu sonho,
Um devaneio que inventei,
Para não anoitecer sozinho,
Para nunca chorar teu adeus...
Talvez eu nunca termine de sonhar,
Pois sonhar é preciso,
O sonho que náufraga,
Deixa sem destino
Quem o perdeu...
Vira apenas um marcador do tempo,
Tudo infinitamente igual,
"Parabéns a você,
Nesta mesma data qualquer,
Querida",
Detritos, conflitos, desilusões...


Soneto ao Apego



Giro pela noite, sozinho
Por ruelas e boates obscuras
Já não tenho medo, nem ninho
A alma já não está mais crua.

O que de ontem tinha pena
Nessa hora é minha cena
Se minha atitude é retina
Minha visão cega, uma sina.

Fato e atos de uma vida nua
Que se desfaz no óbvio sombrio
Me torno seu na cama tua.

Até em sonho, estou no cio
Só na morte encontro ajuda
De semente à muda, enterro o frio. 


Não sobrou mais poesia
No fim
Dos dias

A casa estava vazia
Cinco quadros
Uma tv

As pessoas chegavam
Se sentando
Minha mente ia se levando

A janela clara
De repente ficou escura
E acendiam isqueiros, queimavam charutos

Na rota funda
Muito mais que oriunda
Me elevo, enervo

Xadrez dos anjos
Peão suburbano
Cavaleiro andante de outros planos

Em mil desvios
Mil malas, mil extravios
Duas identidades; em uma só

Poesias vagas
Esparsas
Ficaram nas pegadas

Palmadas, lavadas
Sujas e que se limpam e estremecem
Ar e água

Terra e fogo
Que piso e corro
Mas não fujo

Sentado
Aqui
Os quadros se entreolham

A tv nos celebra
Nos canoniza
Nos protela

Carne de poucos
Muitos poetas
Extensos escritos

Vários, vários gritos!
Mil pretensões!
Talvez milhões, de senões!

Turbinas eólicas
Maremotos
Terremotos

Erupções
Ritmo
Sinfonia

São discursos prontos nas maletas!
São exércitos recitando Camões!
São pátrias de Pessoa que repudiam as pessoas!

Meu deus...meu deus...
De tercetos assim
Digo adeus

São poesias mesquinhas
Que todo mundo faz
E eu faria melhor que eles?

São sentimentos sublimes
Que todos tem
E eu seria melhor quem alguém?

São casos e mais casos
De casos algum
Quem matou a personagem?

Quem usurpou o narrador?
Quem tomou posse do oral?
Quem acha realmente luveres da Grécia?

Grécia antiga
Linda
Passa na tela colorida

Esse mito de que tudo grego
Era melhor
Era divino, era puro

Bárbaros somos feito eles
Que explodimos prédios
Que matamos nossos irmãos espartanos

Álamos, deuses alados
Até hoje suspeitamos
Que Jesus é o ser que tanto invejamos

É branco, loiro, de olhos azuis
Jesuis!
Mas que cruiz é essa!

Que estátuas de marfins são essas
Nesse mundo...
E a gente fica vendo tv, e comendo pipoca

Cala a boca!
Já disse, cala a boca!
Seus imbecis!

Pois agora
Se é feio e bonitinho dizer
O que há de se fazer?

Blogs do caralho
Literatura em vão
Eu escrevo com sangue
È por isso que a poesia me falta

.



Bóia na mente
Um pensar... aleatório,
Um pensar vagabundo,
Destes que você encontra
Pelos bares enfumaçados,
Era um pensar pensado...
Num meio instante,
Naquele prenúncio do apocalipse,
Quando outro pensar chegou,
Como que tivesse sido pensado,
Num outro qualquer pensar,
(eram tantos)...
Meu amor não chegou,
Minha carta esqueci de mandar,
Talvez escrevesse um pensar para ela,
Algo inusitado,... incógnito,
Sem palavras, sem rimas,
Simplesmente belo...
Talvez um sonho...
(eram tantos)...

Seus Olhos


Nos seus olhos...
Vejo-me com escassez de prantos
Nunca há sombra de desenganos
No frio, todos os mantos
No calor, o nosso banho.

Nos seus olhos...
O reflexo da seda dos seus braços
Que se estendem ao longo do meu corpo
Que me despe, reconstitui meus pedaços
Prazer quente, doce, em sopro.

Nos seus olhos...
Vejo a grandeza do mundo
Espelhada da mais bela forma
Amor claro, sem bula, sem norma
Desarmado de espada e escudo.

Seus olhos...
Espelhos do meu sorriso mais sincero
Logradouros do azul celeste do céu
Chamas de dar inveja a Nero
Fazem embriagar-me do seu mel. 

.



Lábios preguiçosos...
Murmurando se acariciando,
Em palavras, desejos e mentiras,
Na varanda encharcada de olhos,
Todos semi serrados,
Abstraídos pelo crepúsculo,
Com suas raízes melancólicas,
Devorando-nos com seus breus...
Porquanto os lábios
Em seus sussurros abstratos,
Permaneciam enaltecidos amantes...
Se enroscando tão somente,
Pelas vielas dos seus corpos nus,
Deitados esfacelados pelo chão...
Saboreando seus beijos carmim...

Imagem



Tela de Nicoletta Tomas Caravia


Retorno a tua imagem,
Renovo-a em minha memória,
Que a manteve guardada até então,
Em segredo.

Suplico que abras
Esse véu espesso
E entre na camada fina
De meu imaginário sonho.

Viole a lei oculta
Que te afasta de mim.
Invoque o deus
Que faz renascer quimeras.

Suplique, se necessário for,
Mas venha invadir meu leito.
Diga que foi solidão demais,
Que é insustentável e morro
De saudades.

Que me encontro no centro
De uma eterna espera,
Sem fôlego livre
Para respirar por mim.

Peça para retornar
Ao teu lugar de relâmpago.
Despedace todas as portas,
Se necessário for, mas venha
Para o meu corpo de silêncio.
Venha abrir as cortinas
Cheias de lembranças.

Quebra-me ao meio se for pra dizer,
Que é tarde demais pra retornar.
Dobra-me até a morte
E passe longe desse abismo
Se for pra dizer que não voltará mais.

Katharsis




Absorver todos os medos
Coletar todas as mentes
Por todas ás serpentes que nos cercam
Por todos os demônios que nos machucam
Existimos
Nessa fúria descontrolada
Nessa última batalha sangrenta pela verdade

Asas que voam livres
Mãos que quebram corpos
Por todos os demônios
Em nossos corações

A dor
O amor
O sangue
O ódio

Clínicas vazias
De um coração salvo
Lágrimas enferrujadas
Mentes cegas
Olhares desesperados
Vida que se deteriora 
Com o tempo maligno

Morte...

Eu ainda quero sentir o cheiro
De todos os medos
Da angústia
Quero ter o prazer 
De quebrar todas as lágrimas

Quero provar 
Da solidão.


.



Procuro-lhe nas palavras...

Quando nada escrevo é por que partiste,

E a página permaneceu em vão...

Quando desperto assim do nada e

Escrevo uma rima bonita,

É por que estás ao meu lado,

Acariciando-me com suas belas palavras...

Por vezes fico relendo o que escrevi,

Só para lhe ter em companhia,

Fazendo-me sorrir...

15 fevereiro 2011

Destino

Sou aquela que dobra
Ao sabor do destino,
Que chama o encaixe,
Que vira de lado e diz:
Quero mais!

Escorro um caminho,
Ordeno que venha,
Que entre na chama,
Que beba o meu gosto,
Que seja o meu ninho.

Não tem argumento que diga,
Que não pode ser.
Que se apague o momento,
De isso acontecer.

E quando se der,
Todos hão de saber,
O destino é uma criança,
Que quando quer,
Tem que ter.



06 fevereiro 2011

..


Saudades do que não fui,
de um caminho que não trilhei,
de escolhas que não fiz,
de pessoas de quem me perdi
pq foram pelo outro braço do caminho.


Janeiro de  2011

01 fevereiro 2011

Minúcias

Sua casa é simples.
No jardim tem flores, cores
e um cheiro de pitangas no ar.
Na sala tem tudo que o identifica
um quadro da Santa Cecília
e uma foto de seu pai em preto e branco
numa moldura oval pendurados na parede.
Na mesa tem frigideira, almofariz
e uma peneira para o preparo do rapé.
Tem tabuleiros...De bolo, dama e xadrez.
Um jogo de baralho para passar as horas vesperais.
Álbuns e álbuns de partituras musicais.
Seus instrumentos favoritos dois sax
um alto e um tenor.
Foi um apaixonado por música, mulheres
poemas contos e seus originais
todos escritos à moda Catulo da Paixão.
Seus troféus, sua máquina de escrever
um dicionário onde farmácia é escrito com PH...

Tinha muito de anjo no temperamento.
Viveu em tudo e trouxe até a mim
uma força misteriosa de renovações!
Durante tantos verões...

.

Não me fale dos lençóis,
Dos girassóis, do nosso amor,
Papéis, anéis, rimas,
Nossos beijos, abraços, enlaços,
Esvaíram-se pelo tempo vento,
Não os acho mais...
Por onde estarão todos aqueles badulaques?
Que tanto amávamos?
Das profundas eloqüentes paixões,
Dos mexilhões, das ondas, que atravessávamos,
Dois corpos azuis,
Dois castiçais de olhares...
Não me fale mais de nada, de ninguém,
Deixe apenas as fotografias ao relento da saudade...
Somos apenas nós,
Em algum ponto nenhum,
Apenas...

Fuga lunar

No dia que soube o céu
Que a lua estaria a fugir
Maré se encheu no seu véu
E o sol quis parar... quis parar de luzir;
Estrelas choraram brilhantes;
Choraram zilhões, os amantes;
Uivaram pr'ela ressurgir.


Unicórnio

Vi o unicórnio voltar
Trazendo a serenidade.
Decifrei cada instante em que
Passamos nos jardins do palácio.

Aprendemos juntos os caminhos
E o culto à coragem.
Andamos sobre passos leves,
Para não precipitar o perigo.

Fomos complacentes com o inimigo.
Estávamos intocáveis
E não havia olhares entre nós.
Não queríamos nada deferente,
Além de existirmos.

Marquei com pedras o destino da volta,
Para não ficarmos presos
No esquecimento da lenda.

Nos separamos na alvorada,
Na remota região dos sonhos,
Mas por mais que eu finja não ver,
Sua sombra ainda me acompanha.