16 outubro 2011

Meu Inferno


Meu inferno surge como presas cravadas na carne do predador
Escuridão repentina que me prende em mãos trêmulas
Vontades insaciáveis e pele ávida
Meu inferno me leva ao eterno
Decomposição viceral , éden de vermes dentro de mim.
Salvação.
Meu inferno bebe sangue contaminado da existência
Coagulado de essência
Meu inferno vira tempestade.
Me pega, me leva, me muda.
Eterniza.

Todos caminhos que percorri
Caberiam numa folha
de papel
Todas os passos que dei
Caberiam nas bolhas
dos meus pés
Mas todos desejos que tenho
Não caberiam
nesse mundo



Eu não sou ela,
Ela não é minha,
Talvez seja,
Mera coincidência,
Minha sombra perdida,
Minha pedra ferida,
Minha amante casual...
Um dia fui eu,
Simplesmente...
Porém chovia,
E lagrimamente
Vi-me nu,
Aos olhos dela,
Neste dia a percebi,
De relance,
De canto de olho,
De corpo distante,
Rimos nós,
Aos compassos do tempo,
Aos prantos dos passos,
Aos silêncios das caricias...
Quem seja?
Não sei,
Um anjo dos dias sem ninguém,
Um riso das manhãs tristes...
Uma poesia desgarrada ao vento...
Que importa senão vive-la,
Enfim...


Fome de Vida


tenho fome de vida
vida que me tange
vida que se mostra
vida que quero seguir.
Caminho aparente ao olhar
vontade permanente em mim
assim como o tempo
saudades de futuros gostar.
Eu tenho em mim fome de vida
tenho fome de vida
vida que me tange
vida que se mostra
vida que quero seguir.
Caminho aparente ao olhar
vontade permanente em mim
assim como o tempo
saudades de futuros gostar.
Eu tenho em mim fome de vida


15 outubro 2011

Açoite toda a Sorte


Agora eu escolho os mundos
Como antes escolhia minha sorte
Antes deu um azar de morte
Será que por ter sido tão fundo
Não vou mais correr atrás?

Hoje piso em estrelas
Como antes sorria na natureza
Depois de ser maldito por elas
Como saberia de dizer: de toda a beleza?

Que há neste planeta
Viva, a quem doer,
Pau no cú dos pernetas!

Os que pisam de uma perna só
Quando o corpo pede, e pintam de um tom só, quando a cor não mede

Viver é ser diferente
É pisar na lama
Com os dois pés

Pois da lama
Que existe do mundo
Uma flor do lótus, e bem fundo
Vai vibrar sua alma: que tem mais
Do que três pontas.


09 outubro 2011

sem título


Hei de partir, de fato
quando cansar de ser performático
No teatro da vida
Mas há quem duvida
Que sou casto
E que meu ser vasto
Não encontrará a saída
Mas me demito
Do meu corpo imaculado
Títere, mártir, mito?
Quero ser platéia
Quero ser palco armado
Expor a ferida
Ser a besta parida
Do ventre farto da miséria
Manchado de sangue cálido
Inválido, esquálido
ou apenas idéia
perdida...
Quero ser o choro verdadeiro
No momento derradeiro
Da peça em cartaz
Da vida que jaz
Pelas mãos do titereiro
No movimento certeiro
A mover para frente e para trás
Meu rosto moldado
E a boca calada
Num gesto calculado
Desfaço a corda atada
Bailo no ar
Brejeiro...
As mentes castradas
E os olhos vidrados
Não me dizem nada
Do último ao primeiro
Não me engano mais
São todos iguais
Quero agora o mundo inteiro


Volta


Foi no limite de uma terra cáustica,
Dentro da zona do silêncio,
Que o teu corpo se desprendeu do meu.

Fui consagrada à eternidade,
E a sua solidão.
A voz que continha as palavras
Sacramentaram o meu coração,
Rezando sacrifícios.

Vi a transparêcia da distância
Que nos habitava.
Aquela parte, que nos ligava como um,
Perdeu-se na ilusão dos dias,
E a tua alma levou a minha.

Fiquei vazia como uma casa abandonada,
Por isso te peço:
Volta antes que a colheita se perca,
E a terra se torne envelhecida.

Volta a regar meu campo com tua alegria.
Traga teu corpo de frutos enlouquecidos,
E preenchas os espaços onde escureço.
Sê água lírica em minha boca,
Antes que meu sangue comece
A escrever nossos nomes.



Acredito em um tipo de amor
Que raramente se sente
Linhas enormes e cortantes chamadas: paixão
Linhas minúsculas, fios de ouro: o amor

Que nossa poesia tivesse
O poder
De alcançar a sua cidade
E te dar um beijo...

Que nossa poesia pudesse
Sem ver
Tocar o seu rosto
Sua face
O teu prazer...

Que nossa poesia voasse
Esnobasse o ar
E a terra
E no meio de sacadas de prédios
Aonde terra e ar não existissem
Chegasse em forma de choro
De cristais...


Tempos idos!


Que absurdo me toca!?é aburso!
Já não sei de onde vim nem para onde vou
Estou pasmo , não
vejo mais cor!
O tempo passou!
Vejo tudo cinza!
Um dia o verde me convidou para uma festa
Recusei sem querer,
Recusei!
Ele era muito para mim.
Tive medo!

Hoje o vento sopra em silêncio.
Sem querer dedilho sensações somente!
É o que resta!
O tempo passou!


sem título


Como tudo que cabe na minha mão
posso tê-los...
Como tudo que cabe no coração
posso retê-los...
Como tudo que não havia então
Apenas o desejo se sê-lo...
Do que não foi em vão
resta apenas meu apelo..


08 outubro 2011

.

Cuidado...
Sou um absurdo,
Olha-me apenas de lado,
Sinta-me a léguas,
Abraça-me somente por descuido...
Acaso por um lapso esbarrares,
Em minha sombra e derivados,
Procure auxilio urgentemente,
É possível estar com palpitações,
(estranhas),
Ou com arrepios ascendentes,
(incontroláveis),
Até possa estar com risos variantes,
(fugazes),
Em meros instantes estarás latindo,
Enfim...

07 outubro 2011

.

Olhar de Miró

Um olho olha cá dentro,
Outro olha lá de fora,
Dois olhos iguais,
Duas visões diferentes,
O de dentro tem seus batuques,
Suas esquisitices, suas imagens,
Seus fotogramas, seus pedaços de amores,
Seu silêncio, sua imensidão, seu infinito labirinto...
O de fora observa, senti, leva bordoada, fala mal,
Buzina, acha graça, abana, lagrimeja, vê tudo,
O mundo e suas entranhas, seus esgotos,
Suas gentes,...
Um olho pisca,
Uma piscadela...
O outro se fecha,
Adormece...


05 outubro 2011

Para Leide

.


O telefone alardeia,
Atendo...
Nenhuma voz, somente um murmúrio distante,
Na TV preta e branca,
Dois negos se beijam em branco,
Mudo o canal, mudo eu,
Sou outro diante do espelho transparente,
Vejo outros horizontes,
Algumas nuvens pretas,
Alguns sonhos em dégradé,
Um velho com suas rugas sorridentes,
A noite é lenta e meus pensamentos não valem nada,
Pigarreio alguns pensamentos,
Dedilho uma antiga melodia,
E chego a dançar numa miragem de cristal,
Sentia-me bem,
Que importa os passos tortos?
Os breves tropeços do acaso?...
O passado desbota no varal,
As águas do tempo passam,
Passados tempos,
Viram passatempo,
Apenas...


Vida


Desvirginando a realidade, cavalgo
Em solos férteis, solos úmidos
Solos arados, solos trincados
Nem sempre receptivos
Mas sempre bem vindos

Quero-te e não deixo a incerteza levar-me
Te quero e o ar é mais desnecessário que esse amar
Brotos de feijão
Brotos de vidas
O sim e o não
Idas

No puro sumo do dizer
Sou só mais uma vida.