30 abril 2011

Initium



A morte nos rodeia, como uma serpente faminta
Não conseguimos escapar deste tormento eterno
A dor que cresce por dentro...
Uma ruína sobre nossos pés
Encontramos um ponto cego de visão
Distribuindo adeus em nossos sonhos
Uma viagem negra através dos pensamentos
Vindas de você, de sua boca
Necessitamos de verdade
Aquela dolorosa verdade vinda de você
As palavras ácidas, que deterioram sentimentos
Pela morte que nos machuca aos poucos
Dizendo boa noite, meu querido...
Minha beleza está sangrando agora
Um apanhador involuntário
Provando o gosto pecador de teus lábios
O câncer continua aqui, em meu peito
Destruindo minha vida, minha alma
Enquanto corpos ficam parados no chão
Neste mundo sujo e infeliz
O brilho de nossas mentes está se apagando aos poucos
E nada pode nos levar daqui
Quando a dor aumentar, eu tentarei por você
Apenas cantando minha dor...
Adeus, meu querido.


.



Nossos mares...
Passos ávidos pelas areias,
Revoadas de ondas aos céus verdes,
Stop baby!!!
Você pode tomar seu café silenciosamente,
Meu amor por ti é lúcido,
Saberá aplacar esse breve acaso...
O tempo é mero meio de sabermos
O quanto estamos absurdamente atrasados,
Mas quem se importa...
O amor simplesmente flui,
Aos sabores do desconexo,
Relaxe sonhe vibre,
Desparafusa a razão,
Faça devagar teus castelos,
Na preguiça dos amantes,
Sem hora para chegar,
Chegarei por certo atrasado,
Não espere...


24 abril 2011

Vou-me



Este fel que adoço
com açúcar mascavo
derrete as fontes de prazer.
Recupera a normalidade da loucura
em esferas concêntricas, suporíferas,
com jeitinho bahiano de ser
e aparecer.
Uma rosa pisoteada.
É viver prá ver. Dará no SBT.
Caminho agora rumo ao ignorado,
um descaminho suado,
uma hecatombe risível,
pouca.
Poucos passos em pasmaceira. Conto
todas as histórias, invento
outras histórias,
tento claro todas as horas.
Este fel que amarga é um veneno,
e eu pequeno
sento
nas poltronas do inferno. É inverno,
faz frio nas entranhas dos pobres
diabos.
Lamento,
mas não há tempo,
o sumidouro e o cata-vento,
o jornaleiro,
o circo que desaba neste exato
momento.


20 abril 2011

"UMA CANÇÃO SEM AMOR"



Me vens namorar
com uma canção cigana
de ouro sujo.

Me acendes o peito
com a frescura do teu cheiro
a terra molhada!

entre os dedos do teu corpo
se espetam juras-fagulhas! Fogo!
como se de novo me parisses
em cada madrugada

Rasgo as linhas da tua face
como lágrimas grávidas
jazidas sem voz
adormecendo
numa sargeta estropiada


Meu Sol Cianeto



A lembrança ainda está aqui
Permanece fechada dentro de mim
Corpos luminosos inundam-se de vida
Enquanto eu fico de pé a sua espera

Durma agora, meu sol frio
Durma, em meus braços cansados
Eu estou aqui
Eu estou aqui por você, e sempre estarei

Durma, meu sol luminoso
Espantarei teus medos
Preencherei teu vazio
Soprarei em tua alma

Durma, meu sol poente
Trarei cura para o seu coração
Irei secar tuas feridas
Com estas minhas lágrimas de orvalho

Durma, meu sol verspetino
Venha através do universo
Seguindo o desejo que nos destrói
Deixe-me devorar este teu lado fraco

Durma agora, meu sol cianeto
Estarei aqui quando você acordar
Apenas durma, em meus braços cansados.



Você sabe o que é pessanka?

As pessankas são uma forma super antiga – dizem que data de aproximadamente 3000 anos antes de Cristo –  de expressão artística do povo da Ucrânia. Os ovos eram vistos como simbolo mágico, já que dessa forma aparentemente simples, surgia a vida. Então fazia parte da tradição ucraniana pintar os ovos com cores e formas que expressavam votos e sentimentos.  
Aos poucos essa tradição enquadrou-se nos padrões do cristianismo e hoje figura como uma tradição de páscoa, as pessoas costumam presentear seus entes queridos com ovos coloridos, uma representação de tudo de bom que lhes desejavam. A tradição se matém até hoje na Ucrânia e os ovos são dados na páscoa e também em datas importantes, como forma de materializar tudo de bom que se deseja em casamentos, batizados e etc.
Querendo saber mais sobre pessankas?
O Centro Cultural CEE Erico Verissimo, em Porto Alegre, está com uma exposição de fotografias sobre a tradição das Pessankas de páscoa aqui no Brasil. A exposição termina no próximo dia 20 de Abril.

18 abril 2011



Nessa hora
Lapses de erudição se conformam com o fim de meus microfones internos
Não há mais show pirotécnicos na retina
Não há mais lasers de batalhas estelares
De criança
E nem os Cabrais
Que imaginei tão alvos, e sãos
E implausíveis

Perdi as guerras dos meus sonhos
E quando perdi
Me veio a felicidade
Hoje elas estão ganhas
E estou triste

Não há mais nada
A não ser
Rememorar as grandes batalhas
Os grandes gritos
As grandes naves

Os grandes conquistadores
De nós mesmos...

Constato



Rubrico o pano negro,
entre nós um tempo.
Nada solto ou reprimo,
animo o verbo, respiro.
Caem folhas e orvalhos
de meus olhos caiados.
Dos lábios de outrem,
que nem sei o nome,
sangue.



Carente de você



Escreva-me uma carta
Pode ser sem remetente
Dê-me uma pedrada
Se for contente...

Cante-me uma serenata
Pode ser sem viola, janela, sem gente
Dê-me uma piscadela
Um sorriso, é urgente...

Está mais fácil eu me perder
Do que te achar
Se eu pudesse voltar atrás
Se eu pudesse...

Puxava você pelo colarinho
Te jogava na bolsa
Fechava o zíper
Talvez você me desse carinho...

E o que será de nosso amor
Se eu nem sei seu nome?
Passou depressa
E vive o tempo todo comigo

Meu leitor imaginário
Ninguém me garante que você é
Aquilo tudo que enxergo
Não espere que de longe vá me namorar
Você é meu pior pesadelo


.



Morenas páginas viajavam pelas ruas,
Vazias de caricias suas...
Por vezes esbarravam em algum aspecto,
Sutil emblemático nostálgico,
Que diziam: escreva em mim,
Transcreva suavemente suas mãos em mim...
E assim perdidamente me dilacerava,
Em pequenos escritos de amor,
Para tua pele poder tocar,
Para tua alma poder acompanhar...


Céu em Chamas



Eu sou a chama, que consome teu céu
Em minha procura, pela verdadeira essência
Os dias seguem mudando, do negro ao cinza

Uma procura indiferente, uma inocência devastada
Uma criança que reza, ajoelhado e mãos unidas
De espiríto pesado, uma outra procura por liberdade
Ignorando seu medo, e permanecendo sozinho, longe do mundo

A procura pelo homem, pelo seu Deus, em sua pele
Eu nunca rezei –talvez por isso sinta tanta dor
Estou tentando me satisfazer aos poucos, procurando por esta minha fé

A chuva está caindo agora, lavando minhas impurezas
A minha boca está em chamas, e o brilho se extinguiu
O mundo está quebrado, e minha mente desertada

Uma escuridão nova nasce em meu sol
O fôlego foi cortado pelas asas
A absoluta misantropia, foi finalmente libertada

A viagem, o caminho de vênus foi liberado para acesso
Estamos esmagados pelo silêncio divino
Um estagnado em glória, cego na luz, perdido na escuridão
Eu sou agora, teu céu em chamas.

Exílio



Estou fugindo com o meu medo.
Vou sem conhecer o ninho de amor
Que gravastes em meu coração.

Sinto uma sensação de engano,
Fria e desolada,
Vinda de teus braços cruzados,
E uma boca cheia de beijos,
Que guardei na imaginação.

Olho tua sombra inclinada
E o peso de teu corpo,
Que nunca esteve em mim.

Estou tão pequena e frágil,
Aos pés de tua altura inexistente.
Minha pele está em exílio
Nesse paraíso só de serpentes.

Todos os momentos
Foram de falsas esperanças,
E nosso encontro
Uma irremediável mentira.

Estou numa insone desordem
E tenho um forte desejo
De desaparecer, antes que tua ausência
Tenha piedade de mim.

17 abril 2011

Grande Arte



A grande arte dos que versam miúdo
E os que versam torrentes
É os temas se fazerem entes
Dos mais simples possíveis
E dos mais complexos
Plurais que podemos definir com um coletivo só
Coletivos que não podemos definir
Nem com um grupo inteiro de dicionários


Eu queria uma alma livre
Uma alma que nunca vi
Uma alma que cresceu comigo e que viveu desde pequenininha
Nessas esquinas que não consigo mais ver
Mas sei que ainda existe
Está logo ali

Queria uma alma pura
Uma alma que não tivesse mais cicatrizes
E que nem o passado
Fosse capaz de mudá-la
E nem o futuro
Capaz de impedi-la

Coisas que o presente não imperializa
O presente nem justifica
Queria uma alma que simplesmente
Tivesse lá
E quando falasse para as estrelas
Ela respondesse
- Obrigado. Obrigada!

Queria uma alma lavada
Mas antes de tudo
Límpida
Viva
Mágica
E cristalina

Uma alma que desconhece os vícios
Uma alma que desconhece o stress
Uma alma que desconhece a humanidade
Uma alma que desconhece os tratados
Uma alma que desconhecesse o amor

Queria uma alma cheia de tédio
Cheia de vida...

Queria uma alma sem prédios
Hall de entrada da grande empresa de minhas retinas!

Queria uma alma sem sentido
Uma coisa errante
Que se confunde, delirante
Com o firmamento, e com a areia dos vasos

Queria uma alma prolífera
Que se reproduzisse tal como samambaias
Queria uma alma curta, uma alma vaga, uma alma sã

Queria uma alma que há tempos foi minha
E que alma
Não se escapa por entre os dedos...Nunca


Das cinzas e do pó.



Mais um dia
Outra batalha recomeça.
Mesmo na dúvida eu irei tentar,
Não sei como irá terminar.
Vejo uma resposta,
Jogo para crer.
As gotas continuam a cair
O barulho ainda me irrita.
Apesar das dores eu levanto,
Sei bem que de nada adiantara se não tentar.
Sinto dores!
Porém não é motivo para desistir.
Apesar de tudo irei tentar!
A força é um dom;
Muitos a usam de forma errada,
Mas eu serei forte para superar!
Pode ser que nada adiantara,
E então levanto-me e fecho a torneira,
O barulho não mais me incomoda.
Procuro mais forças até das cinzas eu renasça assim como uma fênix.
Me encontro no fundo de mim.
Não desisto enquanto a sabedoria não encontrar.
Lágrimas escorrem,
A dor novamente me consome!
Eu ajoelho-me e respiro fundo.
"Não, eu não desistirei. Minha vitória eu conseguirei!"
Por um momento crítico minha existência,
Crítico a humanidade e com razão!
Mas sei que minha realidade e outra.
Encontro forças e sabedoria.
Por fim consigo levanto-me e sigo enfrente.
E no fim do dia descubro que nada foi em vão.
A vitória conquistei.

16 abril 2011

.



Bocas abertas escancaradas bisonhas,
Nuveando por entre os vitrais de gesso,
Quisessem por assim se flertar para as libélulas,
Verdejantes amigas que eram...
Como dois irmãos que nunca foram...
Ei você... você mesmo, que me olhas,
Que me engoles que me assobias...
Respire pire rodopie,
O mundo gira girassol
Hoje tem sol, amanhã poderá ter chuva,
E nós juntos e separados e juntos e aos beijos,
E conjuntos e berimbau,
Trocas tua lua por dois sóis?
Os amantes amavam-se aos miados,
Os namorados brincavam de língua,
Vistes como nossas peles combinam,
Sentiste o vento nos trazendo notícias,
A noite será longa Baby, divirta-se,
Sorria seus lábios arco-íris,
Revele tuas angústias para a platéia,
Todos querem te amar,
Todos querer te seduzir...
Não desista minha flor,
Persista que a dor nunca será infinita,
E logo após a esquina poderá descobrir,
Um novo jardim por colorir...

Cinzas



- Deve ser legal virar cinzas
- Ai o vento consegue levar a gente
- afinal
- Pra onde ele quiser

- Cinzas não querem nada
- Talvez se elas quisessem
- Se transformariam de novo em pensamentos
- E não em brumas


Cinzas do meu pensamento
Cinzas do meu sentimento
Cinzas do meu passado...

Cinzas dos meus ensinamentos
Cinzas desse vago lamento
Cinzas desse cinza, branco, e vago.

La vuelta tuya



Y aquel último beso
Cuál no quedouse en la boca
Quedou como uno solicitud en la garganta
Y hice doler, dolí el pecho!

Pero ahora, como el primero
Ofrecesme lo que denegaste
Dices que quieres a quién renegaste
Per que esperasteme quedar entero?

Ahora tuyo beso, que antes faltaba
Solo puede hacer restar y molesta
Pues hace recordar el dolo
que fue cuándo no lo tiene

Ahora el pecho que antes palpitaba
Aprende con el dolo a hacer canción
Tamborilea uno samba sobre min
Y danza mi melancolía en el corazón

Presente da Rach

04 abril 2011

Eu e você, poesia



Choraminga entre dedos dos poetas
Você que tanto fica ao relento, poesia
Faz-se de boa menina
Sossegue ou saia
O que tanto te inquieta?

Você é tão reflexiva...
Se misturo os temas, te perco
Se ti faço com tristeza, te perco
Duplamente...
É verdade

Qual é a verdadeira ficção
Se não a verdade?
Não se finja por ser mais
verdadeira, poesia.

Dialogo com ti
Faço de ti a minha outra face
Se eu te der signos verbais
Você me aprovaria?

Se revele, eu deixo acontecer
Aqui, só eu e você
Permito ser o real do seu imaginário
Dialogo com ti
Faço de ti o meu espelho
E se eu te der uma musa
Você me aprovaria?

Dialogo com ti
Faço de ti o produto camuflado
Do meu inconsciente dado


"CONCEPÇÃO"



O gesto que amasso
no barro das minhas mãos

emoção, dor e espaço
esventrando a praia-mar
gritada de silêncio

Os astros e as vozes
calando o verbo
que em tempos foi verso
no beiral das minhas janelas

A raíz ainda perfura
a terra e as flores
brotam vermelhas
como morangos

percorro as formas
lambendo o barro

num gesto que consinto
num sentimento que foi

Algures, a lua arranha
este momento em que
sinceramente
confesso que minto.



.

Resquícios de sobras ficaram pelos cantos da sala de jantar...

Um amor de juventude vivido entrelaçado sublime,
Aos abraços e dizeres de nossos acasos matutinos,
Quando ainda nem pensávamos em nada,
Não sentíamos as dores do passado,
Só desenhávamos nossos sonhos pelo inconsciente,
Inconseqüente delirante vagabundo...

Uma rosa deixada em meio às cigarrilhas de acordeom,
A sonoplastia do amor dissipou-se em fragmentos mudos,
O silêncio tomou conta dos olhares,
Pelo chão nossos passos faziam pequenos redemoinhos,
Estavam perdidos de seus rumos,
A primavera já havia saído,
Restava-lhes apenas o aceno melancólico,
Dos distraídos abraços ainda que tardios...

Uma carta amassada ao lado do álbum de fotografia,
Fotos marcadas manchadas amareladas,
Dizia...
Já não te vejo mais...
Já não sei mais quem és...
Já não sei mais que sou...
Vivo eternamente perdido,
De você, de mim...
Era uma carta triste,
Não enviou...
Pensou nos momentos felizes ao seu lado,
Sorrio ao deparar com uma foto,
A última foto que tinha dela,
Ao longe acenando...



Tocados pela Ignorância



A semente da ignorância
Que nasce em nossos corpos, em nossas mentes
Que nos enchem de conforto
Como uma nova religião, que muda nossas vidas

Como animais, seguimos as ordens cegas, obedientes
Bebendo e caindo dentro da tortura apática
Existem falhas em nossas crenças verdadeiras
Como um doença espiritual, dormindo solitária

Enxergamos o mundo, e suas mudanças
Nesta pura submissão caímos nas mãos do controle
O sonho universal, nascido para entender
Olhe o céu, olhe o inferno, produtos finais
De uma mente faminta por inocência

A nossa ignorância, é a nossa bênção
Somos sobreviventes, seguindo nossas verdades
Nos afogando no mar de insanidades
Veja agora, sou o seu novo produto final
Um mundo decaído, tocado pela ignorância.


Redefina-se

Réplica ao poema "Defina-se" de Lara Kolk. 
Suspiros meus à minha musa baiana:


Meu peito pulsa pasmo 
Pois potentes e profundas são tuas palavras,
Pinturas prismais,
Próprias da plenitude platônica
Primais, provocantes, apaixonantes

Vacilo diante de vossa valentia,
Em voz vil, 
Em vocábulos e versos,
Tu viola-me vulcanicamente
Vilã, viral, avassaladora

Asfixio-me ante tua alabarda ardente
A arma e o amor, Ares e Afrodite,
Antagônica aliança, 
Altamente abrasadora
Amarrado, acorrentado, prostrado

Prostro-me aqui,
sem vaidades,
diante de ti
Abdico de mim, 
amarro-me assim
às tuas palavras

Prostro-me aqui,
sem vacilar,
diante de ti
Abdico de mim,
acorrento-me assim
à tua voz

Prostro-me aqui,
sem protelar
diante de ti
Abdico de mim,
possui-me assim
o teu amor.


"MEU REINO"



Já passei fronteiras 

que doeram demais
para além do limiar 
e do sentir

Fui cigana 
de sinas consentidas
e
vi morrer o Sol
em muitas vidas

Hoje
sou a senhora do Mar
onde o verso
por vezes vira reverso
Sou a senhora de mim
A minha escrava
e também Raínha

Me conquistei
à custa da dor
e o meu reino
também foi de Amor.

03 abril 2011

Defina-se


Pedidos convexos
Sussurros de um só vento
São muitas as vogais e consoantes em um só verso
Nenhuma palavra ou dialeto que se forma condiz
De tal forma a ser
Impossível caracterizar ou descrever
Gente assim, como você

Faz-se de mestre
Faz-se de rei
Faz de se o próprio amor

Pedidos côncavos
Distorcidos de engano
Serão palavras repetidas
Não se mexe com palavras, nem com poesia
Quando se apaixona
É um perigo!

É singelo assim, sim
Gente assim, defini-se como a forma viva do próprio amor

Prestidigitador





Um artista tem tantas almas,
quantas consegue sentir e tocar
Tantas faces,
quantas consegue mascarar e dissimular

Falso e verdadeiro,
a premissa do ser que em momento único une
Realidade e fantasia,
a premissa da musa e do gênio

O ilusionista mais antigo do mundo e o truque perfeito
A ironia não se revela a largos passos,
louco me consideras a sociedade que não me importa
mestre consideras aquela que me nota

Falso, gênio, louco, mestre - o que mais dirão?
Pouco importa,
lhes responderei apenas:
sou artista, caro cidadão.

Placebo

Arspoetika Picasso
Girl reading on beach


Darei algo em que você possa acreditar
Trarei cura para o seu corpo cansado
Trarei cura para à os seus machucados
A sua alma murcha
Mostrarei outras direções
Das quais você pode optar
Jogarei com você, até me cansar
Abusarei de você, até me sentir satisfeito
Usarei você em todos os sentidos
Abrirei sua boca, derramarei verdades dentro dela
Arrancarei seus olhos, com os meus próprios dedos
Usarei de minha armas, de minha própria força
Para mostrar para você a minha única verdade
Marcarei seu corpo com a minha saliva
Farei círculos com a minha língua
Farei você sangra em mim
Farei você acreditar em mim
Em minha única verdade
Tentarei trazer paz para à sua vida
Para à sua consciência, para à sua alma
Darei a você, algo em que possa acreditar.

.





Em nuvem pranto
De agosto
Os anéis se despediram
De desgosto,
Pudesse no tempo retornar,
Ao teu gosto,
Seria meu teu querer,
Reposto...



.

Num pedalar
Das casualidades,
Encontrei tuas
Bicicletas a me sorrir...



Depois deste dia
Nunca mais pedalei
Sozinho...



...!


Onde vivo
E vivo ainda
Nada vai além
ou
Quase tudo ainda vem

E de olhos furtados
Busco o que ainda hei.

Palavra salobra
Pingada dos olhos
Tal e qual
Baba de bêbado

Versos perdidos
...
Nesta terra de ninguém.


Através




Através do vidro, vejo
o pouco do vinho que sobrara,
a chuva que escorre em minha janela,
o conhaque que me aquece nessa noite

Através da luz, vejo
o tempo passante,
a vela que se apaga enquanto escrevo,
o sol nascente, solitário...

Através de meu lápis, vejo
o poema incompleto,
as palavras atônitas,
os versos a perder o sentido

Através da porta, vejo
o adeus,
a solidão,
o fim.

Mudanças


Sinto-me perdida,
Sobre o labirinto da vida.
Dentro de mim tudo torna-se ira,
Desejo apenas deitar-me e não acordar mais.
Isso pode parecer estranho,
Mas não o suficiente para privar-me de todo o sofrimento.

Talvez seja mesmo o certo não preocupar-me com nada,
Mas ensina-me a fazê-lo.
É estranho e complicado desacreditar em algo que sempre acreditou,
Não sei como viver sem tentar carregar o mundo nas costas.
Sempre soube que assim que deveria ser,
Então como mudar?

A mudança muitas vezes nos deixa frustrados,
Outras nos deixa amedrontados.
Mas o ponto é que mudança significa algo novo.
Algo que muitas vezes nos fará melhores do que éramos.
Quando mudamos um móvel de lugar desejamos que ele fique em um lugar melhor.
E é assim que devemos lidar com mudanças.
Podem acabar sendo benéficas.
E meu conselho é simples:
Apenas, não tenha medo do novo.



Quem tu és!


Rápidamente,
enquanto batem os sinos,
enquanto atiram a pedra,
enquanto matam a sede,
te vejo brilhar na janela sem portas.

És a nuvem que alimenta a terra,
és o tronco, o lento cavalgar
das ondas sobre o mar.

Rápidamente,
enquanto banham meninos,
enquanto salvam baleias,
enquanto matam saudades,
te vejo brilhar na soleira caiada.

És estrada.

.




Os pássaros estavam azuis,
Levemente aprumados
Voavam pelos ventos,
A solta como nós...

Velejavam pelos desconhecidos
E longínquos mares de cata-ventos...
Fazendo amor nas nuvens,
Criando seus próprios vôos,
Ao léu do tempo marcado...

Quando percebemos já era noite,
Ao longe no luar os pássaros seguiam seu rumo,
E os cata-ventos giravam devagar,
Na leveza da brisa tardia,
Nossos olhares ainda espreguiçavam amores...


"HABITAR O VENTO"


Meu navio 
é habitar o vento
no invísivel tempo
de não te ter

Viver no templo 
vazio e ser
coração de pássaro
no relento

Enquanto do outro lado
lá no deserto,
nem um oásis desponta
de vibração 

E o vento morre parado
estagnando de silêncio
o pólen na tua mão

02 abril 2011

O Arco



Vem e solta meu coração de tuas mãos.
Gota a gota perco lágrimas de rubi.
Orienta-me nessa desordem de dor. 

Deixa que me disparem 
De todos os pontos do arco do flecheiro
E voe na cadência dos ventos. 

Quero ser a primeira a chegar
Onde o sol levanta.
Erguer teu estandarte
No dorso da terra úmida e verdejante.

Dá-me teu sonho
Para eu encher as jarras de prata
E me acalmar em minha aflição. 

Ordena-me um lugar 
Sem mistério, 
Que caiba sua luz. 

Fale-me suas palavras devoradoras.
Dobra-me em teus joelhos de ferro. 
Meu coração há de parar 
Quando tu parares 
Tua flecha de seta cintilante no ar. 

Meus pés criarão raízes ao teu redor,
Porque já faço parte da pele que te cobre. 

Agora te envolvo com um manto de sono 
E sopro uma leve brisa
Para que te aconchegues a mim 
Penetrando o meu tecido.



O Lamento em Mãos Frias



Você vai estar lá, estará lá por mim quando eu precisar
Ou vai me deixar de lado como fez com todos os outros
A vida esta se esgotando, o tempo sempre foi um fardo
O mundo esta mudando com a minha visão

O amor, nunca foi o suficiente...

Estou desvanecendo, morrendo aos poucos
Caindo nos termos abstratos, desfigurados com o ódio
Como uma velha vela de cera, apagada e acendida várias vezes seguidas
Mas que nunca foi importante, apenas descartável, assim como eu...

Sou seu amante, preso em suas mãos frias
E em suas mãos frias, não passo de uma ferramenta

Quando você me levará daqui, quando vou poder pegar em suas mãos frias
E ser carregado deste pesadelo, deste cinza infinito
Quando vou poder dizer a mim mesmo que estou curado dessas feridas...





Para ti entrego o poema que eu nunca fiz
Que é mais lindo
Do que o poema que eu sempre quiz
E menos belo que o poema
Que eu nunca quiz

São umas tirinhas de plástico
Estilo gelinho
Derretem na boca
É prosa tão esperta
Que vira lira e poesia tão rapidinho

Mensagens na praia
Telegramas
Correios elegantes
Para ti um nariz vermelhinho
Um berimbau preto
E um tapete da índia

Poema mágico!
Daqueles que correm dos narizinhos
Crianças que nunca fui

Viagens sobrepostas!
Ilhas sozinhas
Em que te encontrei

A ti não te entrego
Nada disso
Não não
Que vejo não

Antes um papel pequenininho
E um lápis imenso
Sonhos são preciso

Fodasse, fodasse
O resto
É proibido proibir
Mas é proibido também
Tanta coisa...

Censuras?
Não
Abaixo Ditadura!
Abaixo Escravidão!

Democracria...
Somos um só
Em cadeiras no planalto
Vozes dissonantes que imperam
Em cadeiras alcochoadas na qual a minha coluna ouve
Cortes para tudo, preço do couro mais caro

É proibido proibir
Mas é proibido também
Tanta coisa...

Quem diria que nos jornais
Nos tais anos eleitorais
E só tinha ditos cujos
Donos das morais

Estado...
Milhões de acesso
Na internet que votam
A certeza que tenho da representação
É que há uma união mais certa da razão
Dessa flor que te entreguei

É proibido proibir
Mas é proibido também
Tanta coisa...

Outras mal ditas
No vento
Fiquei com medo
Da polícia que lê os versos
Como se na minha faculdade
Também ouve heresores, e heresias

Poesia...
Vazamentos, utopias
"Uma flor nasceu no asfalto?"
E furou não só o tédio, não só o ódio
Devia furar a democracria, o estado
A religião, a falsa educação
Representatidade?
Democracia hoje no Brasil é luxo
Não apoio também as ditaduras que nos levavam ao lixo
Mas ante
A qualquer tipo de idéia utópica
Que nos leve a não pensar

Socialismo
Demagogismo
Democracia

É proibido proibir
Mas é proibido também
Tantas coisas...

Quem é que diz o que eu posso pensar?
Mas não ganharia nenhum tostão assim