14 dezembro 2009

"BREVE PENSAMENTO"




Existe no silêncio
um grito de harpas
desamparadas

como se viúvas
da música das palavras.

Porém não chores
a eternidade aprende-se
escutando o vento.

Céu - Malemolência

06 dezembro 2009

##



Paradoxos diversos...
Neste mapa de olhares,
Segredavam dizeres,
Cândidos pomares de frutas meigas,
Servidas ao cair da tarde,
Entre beijos e confidências,
Porquanto o céu vestia-se de crepúsculo,
Num tom avermelhado escuro,
Trazendo em colo a lua,
Meio tímida encoberto por nuvens,
Que refletia nossos corpos,
Meio nus deitados estirados complacentes,
Somente bebendo o luar e suas magias,
Vivendo todo o infinito segundo,
Que nos tragava docemente,
Por devaneios de risos primaveris,
Fazendo florescer em nossas mentes,
A púrpura razão do amor ocasional,
Que tão felizes buscávamos,
Na paradoxal rotina de nossos viveres...

Nostalgia



Os casacos de invernos passados
podem esconder tesouros nos bolsos
que às vezes,
simplesmente
Não vemos o vento do outono
trazer pela janela

Os bem-te-vis
falam mais por nós
Enquanto procuramos os ninhos
que não estão mais lá
Os ninhos
que deixamos partir

Fatos, fotos,
que nem precisam estar no papel,
despencam suaves como penas
E se unem
numa colcha de retalhos,
as águas todas
de um mesmo oceano

Na pele e a Morte.



O arrepio na pele que gela
o sangue
decerto altera o pulsar da mente.
Basta ver um guerreiro valente
que se depara
em breve instante
com a morte traiçoeira.
A traiçoeira morte não permite defesa,
é cruel, é fria, é coisa de gente.
Os homens que transitam por shoppings estão barbeados e não temem a morte.
As mulheres no fast-food conversam sobre os cabelos e não temem a morte.
O garoto do delivery, o cão-pastor da Polícia Militar, alguns psicopatas,
os transcendentais,
nenhum deles, que conheço ocasionalmente,
temem a morte.
Mausoléus silenciosos e muros petrificados escondem
as vidas que pulsam no além, dizem.
Que pulsam e não é no além-mar,
que esgotam todas as possibilidades do viver e estão reclusas.
Os insaciáveis e os antagônicos em debates intermináveis...
trapos puídos engavetados!
Silenciosos orgasmos de seres tiranos,
navegadores de oceanos que buscam
frenéticos
os seres das grutas escuras.
O arrepio na pele pode ser um aviso.
O arrepio é o toque do cetro do mago e do nada,
enquanto girando o momento esperado sangrar
.

Eu Quero a Eternidade




Estradas floridas com girassóis
União do amor com a paz

Quero percorrer o seu caminho
Utilizar um trajeto feito por nós
Embriagar-me de sua paixão
Resolver seus problemas nunca sozinho
Organizar sua vida de contramão

Abrir um leque de soluções

Eternizar as saídas
Trabalhar muito para termos o melhor
Enriquecer de saúde
Rir do meu próprio suor
Na beleza de ter plenitude
Indo e vindo com você do meu lado
Doar sem querer nada em troca
Algum lugar para ser coroado
Dúvidas, muito poucas, existirão
Estaremos sempre além do certo e do errado.

[clarificação.]



A escuridão não me deixa caminhar
Ir tão longe que perde aos olhos
Olhos que não secam
Passam noites afogados
E os dias escondidos
Escondidos nos sorrisos que não existem
Tento correr
Tento fugir
Não posso
Dou a cara à tapa
Dou o corpo aos murros
Doo os lábios aos beijos
Fujo da multidão
Mergulho em mim, encontro o nada
Tento sonhar, quero viver
Inalar
Respirar felicidade
Aspirando liberdade
Sinto os bons ventos
A cor da água
E o cheiro doce
Faço-me luz.

[o ciclo.]



Achei que minha respiração não mentia
Que minha essência não se enganava
Mas não
Aqueles olhos que outrora refletiam o sabor que emanava de seu sorriso
Cerraram
Aquela boca que ontem não proferia outro som que não fosse o amor
Calou-se
Despencando como um corpo gélido e sem cor
Para a não gravidade da solidão
O breu mais uma vez esfriou o chão do quarto
E o resto da casa
Desmetamorfoseou a borboleta
És lagarta outra vez
Que transformação é essa?
Que um dia é Luz,
Outro dia sou eu?

Algumas imagens de respiração atemporal



Quando nada lhe prende a nada
E tudo está tão ridículo
Quanto natural
É que não preciso nem gostar do que aparece
Mas se aparece e me faz calar por instantes transparentes
E me deixa horas refletindo
Sobre praticamente seus mistérios
Seus problemas
Seus gozos
Suas áureas
É que em fios de ouro
Cai em mim gotas espessas
Dos sonhos mais puros
Das melhores lembranças
Do velho balanço
Do meu sorriso em seus olhos
Do toque sem querer
Distante de tudo
Perto do nada
Na escuridão das almas que o tempo levou
E traz de de volta em um livro
Em um filme
Em uma careta
Em nosso amor
Tão dissonante como o coro de guitarras humanas
Em um precipício
Caindo em desesperos entre as cordas
Mas feliz
E olha que nao gostava tanto assim

#



Li no jornal...
Que o mundo pirou, enlouqueceu...
Que ninguém se achou naquele fim,
Que até o doutor se perdeu por fim,
Que o meliante se arrependeu do acontecido,
Que a rosa murchou na porta dos apaixonados,
Que o amante fugiu solitário pois não encontrou ninguém para amar,
Que o assassino se matou antes de matar a suposta vítima,
Que o poeta esqueceu das palavras pelo caminho,
Que o cachorro sem dono se perdeu na encruzilhada da rua paralela,
Que o mar secou inundando a terra seca,
Que o vento parou silenciando os gemidos no varal das roupas,
Que as lágrimas se espalharam pelo chão deixando suas rugas sem nome,
Li no jornal...

05 dezembro 2009

A Contração



Conforme as águas daquele rio passam,
perto as rochas se arrepiam
Rocha mole contrai um nervo
E dilata as veias
Para que se deslize suavemente entre elas
seu contorno inteiro

Mas enquanto o tempo passa,
e ele não carece motivo,
ainda é hoje

E hoje-ontem e amanhã-hoje
As folhas do calendário se esculpem,
pedra sólida e pura,
Nas rochas oculares que capturarão
o mundo e o esculpirão,
pedra maleável e diversa,
Para si

Mas não!
Trago uma caçamba cheia de hojes que,
água murcha e pálida,
Enverniza.
Remove aquelas digitais
amassadas na pedra com paixão
Lixa o suor
deixado na veia da pedra pelo trabalho

E o céu de dia é tão simplesmente azul
O fogo é tão simplesmente vermelho
As comidas tem somente o próprio gosto
Meus pés sentem o chão somente
Minha pele sente a pele somente
Minhas artérias sentem o sangue somente!

Mas basta...
Basta a presença
água flamejante e concreta
Para iniciar em rodízio as engrenagens
Engrenagens a girar, a dobrar, a rir
Incendiando o céu em fagulhas verdes,
um suave aroma de incenso,
êxtase pleno

30 novembro 2009

Só um lembrete do Quintana ...

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê,
perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia,
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá, será desse tempo
que infelizmente não voltará mais.'
Mário Quintana


08 novembro 2009

Caravanas



O vento sopra na estrada
Ouve-se passos
Algo oscila
Passam-se as caravanas

O vento sopra na estrada
Ouve-se passos
Algo oscila
Passam-se as caravanas

O vento sopra na estrada
Ouve-se passos
Algo oscila
Passam-se as caravanas

O vento sopra na estrada
Ouve-se passos
Algo oscila
Passa-se enfim todo o ser humano

Afectos"




Assim pouco a pouco
Cai a distância como bruma
Espessa e quente
Nos frágeis fios da teia dos afectos...
Qual estranha espuma dissolvente,
Parte um, depois outro,
Até que o nada se instala sem aviso!
Logo falamos estranhos línguas,que não o mirandês
Palavras soltas como gumes escondidos...
Fechada que é a alma,
Selados os sentidos...


"CANTICO DO AMOR AUSENTE"



Como as cordas do meu violino sem música
vibras em todas as aldeias do meu sangue
onde tudo começa e onde tudo acaba
e tu, ainda circulas como um barco
por vezes sem rumo e sem vela

Te fizeste raíz e tronco
na terra árida por alvorecer
onde semeaste rosas,
girassóis e verdes Eras
e na alta chaminé
ateaste o lume e o fumo
duma fogueira ardente
de primaveras
que o Outono teima
em fazer acontecer.

Quisera recuperar o fogo
e as alegrias de outros momentos
e de novo te esperar na janela
que em Junho se abria de par em par
para contigo sonhar as fantasias
que como um jogo
sempre tinhas para contar

Quisera recuperar todas as notas
desse meu violino esquecido
a emoção e o Hino da Alegria

como celebração de nosso destino
.

x




Quando o dia não for mais dia,
E a flor que desabrochara na manhã,
Deixar cair suas pétalas ao vento,
E aquela gente toda apressada,
Na fila do trem lotado,
Naufragar nos bares obscuros,
E o sino que feliz anunciava
O raiar de mais um dia,
Estiver enfim adormecido,
Nesta hora por certo ainda estarei,
Pela janela de meu quarto sozinho,
Na espreita a esperar,
O despontar de teus passos miúdos,
Surgindo no silêncio dos horizontes,
Num andar sem pressa de chegar,
Sorrindo teus destinos indecifráveis,
Acenando-me num gesto quase despercebido do olhar,
Despertando o sabor de antigas paixões,
Esquecidas no musgo do cotidiano,
Fazendo-me crer ainda que tarde,
No sentido belo daqueles sonhos de criança,
Quando acreditava em amores e magia,
Quando sorria pequenos risos de viver...

Caixa de Sentimentos




No vazio do meu ser
Minha alma padece
Agonia, solidão
Desprezo, satisfação
Um individuo solitário
Ostracismo de um coração
Guardo toda minha mágoa
Guardo o nada, guardo o vão
O vazio do saber
Passo tudo para a vida
Meus segredo mais secretos
Escondidos a sete chaves
Indigestos e indiscretos

Tenho Fé




Tenho fé no futuro
Tenho fé no presente
Mas não tive no passado
Incoerente!

Saudade do que fui
Saudade de quem partiu
Saudades de quem me viu
Saudades do que até serei
Loucura

Mas tenho fé no futuro
Nesse mais próximo
Nesse mais duro
Nesse mais lógico

07 novembro 2009

DE TUDO QUE PENSO




Faz-se poesia
da alma
algodão doce, criação
Esperança de letras que caem do céu da imaginação
a mais pura arte, pura magia, suor das tintas
emoção escrita que não tem momento
Só tem sentimento
nunca tem máscara a não ser que o poeta queira
Absoluta certeza, ou não
Uma calibragem de amor e ódio
Passos largos, passos longos
Dizer "te amo" é fácil
Escrever "te amo" é quase impossível
não caberia em mil resmas
mas mesmo assim tentarei.

01 novembro 2009

Silêncio




E no silêncio
Ouvi meus pensamentos
Como se não tivessem fim

E do silêncio
Apenas restou a mim
Como partes tuas aqui dentro

E na ausência de tudo
Eu encontrei o perfeito
Visto não haver defeito
Como lembro-te igual agora

E ao ouvir voz e mudo
Tua voz sussura sorrindo
Pouco a tanto se esvaindo
Como fosse de dentro a fora
81 CP PP

19 outubro 2009

A Outra de Mim




Pensam vocês que sou eu aqui?
Eu sou outra
Que me sopra palavras.
Essa outra que me apossa,
Converte-me em alguém que não sou.
Revolta meus pensamentos,
Devora as minhas horas.

Faz-me escrever confissões
Desconhecidas por mim.
Põe desordem em meus dias,
Engasga-me de inusitadas paixões.

Quando ela se aparta de mim
Escrevo para lembrar-me depois.
Sei o que sou agora e o que serei a dois.
Marco meus passos,
Esquadrilho meus cantos.
Tenho que ter o fio,
De volta a minha meada.

Ela me adorna de coisas,
Que nunca vi e de antemão,
Digo que sou a outra
Que delira em meu coração.

Faz-me crer que estou louca,
Que não vivo mais em mim,
Que moro num transatlântico,
Sequer num barco subi.

De minha vida sou naufraga,
Eu nada sei, nada vi;
É outra quem me comanda
Navegando dentro de mim.

28 setembro 2009

20 setembro 2009

Solitário e Final




Sim, nós compartilhamos bons papos
e caminhadas e pizzas e o mar
nos envolveu
e trouxe alguma alegria
a nossos corpos molhados.
Mas a alma pedia,
implorava um ar menos pesado
naquela ocasião.
Foi assim durante a sessão de cinema,
entre o cálido beijo do mocinho na mocinha
depois da prisão do bandido,
na penumbra da sala,
quase no fim entre eu e você por um triz.
A dificuldade no olhar embotado,
aquela estrela brilhante de xerife,
o sorriso morno e a pipoca fria.
Não me contive e gritei um grito de encantar.
Você sorria e então as luzes foram acesas.
Acabou-se em segundos a magia e levantamos.
Nos perfilamos lado a lado,
nos tínhamos encoleirados,
ambos soltos,
Bichos soltos.
Nos pusemos prá fora e prá fora andamos
embora,
assim contentes,
voltássemos a ser quem fomos
um dia
antes de nascer.

*



por tanto iludir, teu realismo pasmo
e te espanta meu encanto, ficas perdida
e como seguir ao mesmo entusiasmo
se a esperança pouca quer perdida

ao que indiferença seja teu desejo
e por teu segredo, reavivo e inspiro
a esperança, e ao dizer o que almejo
meu maior grito é ainda um suspiro

e se sobra do silêncio, estar perto
meu passo não vai em tua direção
vão os passos contra o pensamento?
ou não possa um segredo ter ação?

e se sobra em segredo, olhar pra ti
ver teus olhos me contentem o peito
e se os teus seguem por outra parte
me instiga o que pensas ao teu jeito

Atéia prece



Escrevendo sentimentos
dou a mim o que me falta!
Pois por trás da fria pauta,
acontece alguns eventos...
Como quem contando os ventos
chega a cem e reconhece
que o vento não se tece
pelo que pode contar,
faço então, do poetar
minha terna e atéia prece!


Iluminada



Que gosto é esse que fica em minha boca
Quando sei de tua intimidade?
Que prazer é esse que me sacode inteira
Quando sou sugada por sua boca quente?

Vou em êxtase para o fundo de tua cama.
Abro minhas portas para recebê-lo
Entrego-me até desfibrilar meu coração.

É nesse céu de nuvens que me encontro,
Num remanso calmo que torna tempestade.
Chove em minhas coxas uma água salgada.
Roças seu dorso liso em meu ventre afoito
E sou consumida desmaiando em ti,
Toda iluminada


16 setembro 2009

HOMEM PENSANTE




Quase nunca ia até a janela
O risco de ser livre era grande
Jamais se deitava pensando nela
Ficava mudo para não ser falante

Não se olhava no espelho do quarto
Não tomava banho com medo de se afogar
Vivia dizendo que não nasceu de um parto
E tinha sido um pássaro que lhe ensinou a falar

Todos estavam errados menos ele próprio
Só ele sabia a maneira certa de andar
Fraquejar era seu brinquedo nobre
Jogava dia e noite com o seu "amar"

Buscava na alma todas as perguntas
Passeava sempre dentro do próprio lar
Via animais e pessoas sempre ocultas
Sabia que o mundo inteiro não era o lugar que ele deveria estar.

"POR DENTRO DA MÚSICA"



Por dentro da música
morrem os violinos
num etéreo suícidio
dos dedos e da alma,

morrem as canções
desesperadas
numa trágica ópera
sem contralto nem tenor,

Por dentro da música
morre a poesia e morre o tempo
do tempo de te cantar amor,

Por dentro da música
morre o eco da minha voz
num palco vazio
sem rosas nem aplausos


Noções



Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é que é alma:
qualquer coisa que flutua por este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

13 setembro 2009

Nosso Futuro


Andei formulando um sentido,
Criei uma imagem num mapa.
Representei seu enquadramento
Num lugar em minha vida.

Desordenaram-se as linhas
O caminho foi apagado.

Um véu de emanações tardias
Enrolou-se nas coisas ditas.
Mostrando-me, enfim,
A tênue linha que nos prendia.

Nossa vida singular era delírio,
Não passava de invenção,
De um plano imponderável
Escrito na minha mão.

Contido nas linhas escritas,
Foi incapaz de suportar
Travessia infinita
Alcançar outro lugar.

Nosso futuro ficou sem rumo,
Ficou solto, em algum lugar
De meu plano escrito.

Horas Mortas


Ali sentado de onde estava só
a rua resplandecia.
Havia luzes tão gastas e mariposas
sobrevoavam as mesas.
Uma névoa fina e transparente era cortina.
Tudo molhado, sublime, todos.
Os postes sérios, gelados,
parafusados ao solo
apoiavam namorados,
testemunhavam beijos,
encantados.
Sussurros, miados, latidos safados,
Quentes bebidas por parcos trocados.



10 setembro 2009

TORMENTOS



Trago comigo a rosa
Onde quer que esteja
Rosa bendita seja
Momentos, indecorosa
Entre tudo que vagueia
Nunca noite, sempre cheia
Trago comigo a rosa
Onde sei que procurais
Suma rosa morre prosa

09 setembro 2009

Parapeito


Vi passando
meu calado poema,
triste e findo poema oblíquo,
poema entristecido e findo,
meu triste poema conciso.

Poema das poucas portas,
das breves horas,
serenas,
debruçado equidistante
nos peitoris sem moldura
das vastas janelas
de outrora.



[]


A única coisa de que preciso agora
É a carícia de uma mão quente
Que escorregue pelo meu corpo como água
Ou como um lençol, me abrace
E que servisse para mim como um entorpecente paralizante
Para todas as minhas frustrações e fracassos
Dores e deslizes por mim cometidos

Sentidos


Me expondo dessa forma,
Preciso de mais remédio
Como as palavras carinhosas
Ditas por um amante ou amigo
Cúmplice ou cônjuge
Mulher ou marido
Que pudessem acalentar meu pranto,
Com um lenço enxugar minhas lágrimas
E com um beijo, pudessem curar meus soluços.



**


Amigos somos
Como de outros carnavais
Das tarde de fantasia
Gravuras de risos,
Dois palhaços no meio do salão,
Abraçados pulando
A nossa rima de pele,
A nossa loucura de samba,
Até o dia raiar...
Até nossos olhares partirem...
Cada um em seu rumo,
Seus tropeços intermináveis,
Seus passos irregulares,
Suas casas distantes,
Ainda sentiam...
O sabor da purpurina,
O beijo na varanda,
As promessas do infinito,
A tarde caia...
No silêncio da rua,
Na fotografia guardada,
Nas lembranças estampadas,
Nas faces solitárias...
O tempo não desbotou,
Nossos cabelos rebeldes,
O velho blues na vitrola,
O nosso mar de aquarela,
Nossas mãos abraçadas ao vento...
De longe ainda lhe sinto,
Como se nunca tivesse partido,
Como se o antes nem existisse,
Como de outros carnavais,
Amigos apenas,
Amigos simplesmente...

O teu sorriso, por favor




Por favor, me dê um sorriso
É tudo que lhe peço
Todo dia meu coração é um regresso
Dores, de amores possessos

Please, give me a smile
A only smile
I will bring the stars of the sky
The blue on the sea
Into your eyes

Resplandessa como a aurora
Não diga amores de outrora
Nem mesmo grite o que queria
Queira querer
E tu em mim vai ver
Uma face sorrindo, desigual
Mas sorrindo

Diga que voltarás a noite
Dançando valsas
Bailando em terrenos baldios

Vamos, desça, salte dai
Me dê as mãos
Vamos errar juntos o mesmo caminho...


07 setembro 2009

CHAGALL


Seguir o traço seguir o querer
a insistência e o ser
ate ao vórtice das origens.

Eixo ou seixo
desenhado na fronte dourada
de um ocaso.

Rasto ou aurora boreal
num luminoso quadro
de Chagall.

03 setembro 2009

*


Deixe-me...
Num tardar qualquer,
Neste improviso providencial,
Num ponto sem ponto,
Entre a loucura e o precipício,
Viro-me do avesso, acho-me talvez ...
Deixe-me...
Neste rumo abstrato,
Pelas margens do sem fim,
Vagando aleatório,
Nos confins da solidão,
Por certo algum eu, ainda haverei de achar...
Deixe-me....
Pelos tropeços da incerteza,
Quando ainda em sonho lhe imaginava,
Nos paraísos de meus passos,
A florir meus caminhos,
Sem conhecer o lado triste da ilusão...
Deixe-me...
Por fim neste bar de poucas luzes,
Embriagar meus sentidos confusos,
Tentando rever onde lhe perdi,
Ou simplesmente inventando,
Um jeito de viver sem você,
Ou somente deixando tudo assim,
Numa metáfora do destino,
Deixe-me...
Por instantes ainda senti-la,
Guardar no íntimo teu perfume,
Lembrar teu gosto especial,
Teus paradigmas essenciais,
Tuas virtudes plurais,
Deixa-me...
Por sempre tuas saudades,
Sem elas meu viver se esvai,
Torno-me oco de arrepio,
Um mero objeto sem sentido...


Safa


Carpe o chão que te encerra,
corre agora prá dentro
de casa,
assim como o gato,
se isole.
Faça sempre
o que te pedem,
te mandam,
doutrinam,
viva em tempos de esmola.
Coma a sobra
do que que esnoba
o pão.
Banhe o corpo em copos d'água,
transpire como transpira
um peão.
Seja o lixo que ejacula.
O lixo das gentes, das mentes, do chão.
O cativeirao e a fúria,
a força da ignorância
que predomina
e que rima
com o combustível
invisível,
com a seiva que vaza
dos cortes
nos corpos
dos delatores de plantão.
Faça agora o que te ensinaram nas cruzes,
nas mazelas,
nos átrios,
com o rabo entre as pernas,
com as mãos.
Faça com a boca traidora,
com a língua, o pulmão.
Seja o trapo
que sujo e sedento
pelos altos
é acenado
em adeus.
Assim
vindo do prelo,
modorrento,
morra e desperte,
qual cisne,
morra novamente,
enrijeça,
apodreça em azul.
Faça de conta que eu nem sei o que sabes que eu sei,
mas nada comente,
não!
Simplesmente faça
e suma, desapareça!

"AMOR PARADOXAL"



Vai amor
é preciso que partas.

Quero sentir bem
a dor da tua ausência
e a solidão
da minha nudez desabitada.

Vai!
Deixa-me só neste caminho de rosas e de espinhos.

Quando voltares, Se voltares...

tuas mãos desenharão no meu corpo
tresloucadas rosas de desejo
e as nossas bocas
morder-se-ão
em beijos desesperados
como se fosse a última vez.

Por isso quero que me deixes
para poder te amar
como se a vida fosse acabar
no momento em que,
insaciáveis,
nos possuiremos
como se fosse a primeira vez.

Circunscrições


Na praça lá do bairro,
o mundo cabe dentro.

Um menino soltando pipas
e um outro cheirando cola.

Jogo de bola, bebum no banco
Um casal no barranco, amor.

A praça do bairro
é a praça da vida
- aquela que eu não via
nos meus sonhos de criança:

O mundo dentro da praça,
a praça dentro de mim
e eu dentro do nada.


01 setembro 2009

Domador de Dores


Desconfio do estranho
domador dos corcéis dos meus cabelos
nas rédeas dos meus ímpetos
encanta a dor das serpentes
proveu no cantil o veneno da getula
o bálsamo de mim e dos reis
desse jorro de sangue perolizado.

O domador
lapidou a bruta alma
em centenas de centelhas de diamantes.

A fúria
domou a dor
brotando da lama o lótus.



Desertou no meu corpo
que suplicava o néctar à minha cura.

Foi-se distante como o vento
que prendi nas vestes
e o engaiolei nas grades de bronze
dos porões inóspitos
do meu órgão pulsante
seivando quente as veias do estranho
que domou a dor
de todos os meus medos.

Jangadeira





Já no recomeço partiu-se em mim
uma palavra,
desfez-se a nuvem de fumaça
e olhei para ti,
sem pensar,
por vários motivos.
Já sabíamos que a jangada
e o vento e as correntes do mar
nos aguardavam.
Iríamos,
formatos múltiplos,
navegar.
Por aqueles dias,
entre noites de espanto
avançaríamos,
Por ondas, por vagas,
imensos cardumes
e corais.
O sal,
o tempero,
o novelo
deste nosso estranho desejo
de morte
e de amar.


Adonis K. 77

31 agosto 2009

Face a Face __________________________________ 77



O verso se
libertou da carga
ungindo-se de tinta
em pleno inverno
e se vestiu de zêlo
só pra buscar no céu a lua
e enfrentar o dragão de São Jorge.
Com alforge de caçador
e reluzente metralhadora
arremessou pingos de liz
e vozes de anis
entre linhas...

E o verso conseguiu!
A lua está aí.
Pudera!
Foi tanto ratatatá-tatá-tá
que o dragão fugiu
assim que viu a metralhadora.


29 agosto 2009

Dois lados da esquina **






Até a esquina eu te levei
E foi lá que te deixei
Boba, apaixonada, febril

Mil beijos beijados
Naquela esquina, estalados
Se enlaçaram humanos aconchegados

Eu olhava o que estava por vir
Sabia o que viera antes
A união de pernas, de braços...

Você tinha uma ingenuidade quase infantil
Como não querer algo assim?
Pois me dava raiva...

Pois como! Como, meu deus, roubar algo
Trocar carícias
Se o mundo me pertence
E se o amor descontrói certos tipos de liberdade...

Pois como! Como, meu deus, desejar fortemente
Unicamente por isto
Sua cara de malícia
Que nem sabe o que é malícia...

Contentei-me com um café que tinha lá do lado
Comprei um capuccino expresso
Paguei, fui embora
Como um beijo no rosto e uma piscadinha me despedi
ELa sorriu e nem percebeu...

Naquela esquina
Aonde tantas gurias já tiveram em seus braços
Quantas disseram: Ah, se amar é isso! Então eu te amo mais da conta!
Ah, gostar! Gostar!

Comunhão de corpos indo de encontro a
E se perdendo na escuridão das ruas...

Lembrei de batizar o capuccino
E de ter muita dor de barriga a noite...
Só assim não pensaria em ti

Sim, eu estava literalmente cagando para o amor
E você de noite penteando os lindos cachos louros...

Ah, se a gente soubesse




Palavra por palavra
Um ato
Desmancha e distrai
É fato

Tapa por tapa
Me dê um abraço
Triste assim

Eu não tinha palavras
Não escrevi
Eu não tinha nada a dizer
Não disse

Amar a gente ama
E como ama
Pegue minha mão, vamos por aí
Por onde?

Eu ainda não sei...

Viajor



Vou por trechos encachoeirados
sem setas indicativas,
por picadas encobertas
pelas folhagens da vida.
Incertos vãos, frestas, brechas, fendas.
Feridas.
Orifícios de paixão e suor e ganidos.
Miseráveis absurdos de mentes funestas.
Cortes profundos,
acelerados passos,
sangrias,
moribundos.
Se peco ou se perco
a noção
do momento obtuso,
regresso por tanto temer
este pouco de escuro.
Se chove ou se venta ou se tento
alçar vôos noturnos,
o mêdo,
esta algema,
este trema,
me prende a este solo inconcluso.
E assim vou vivendo
entre homens complexos,
gemendo umas dores que nem doem mais.
Sou vésper,
estrela matutina.
Sou creme, sou preto, sou âmbar,
sózinho e acompanhado,
água turva,
barrenta,
opaca,
que nada em mim cristalina ou desata.


*




eu tento guardar, dentro de mim
um sonho que ainda, não fora sonhado!
um sonho assim, que eu peguei emprestado
de um tempo exilado do agora medonho!

neste sonho, tão bem desenhado
por linhas que ainda, não posso entender,
existe uma vida, um carinho, um cuidado,
um sol acanhado esperando nascer!

eu crio então, por horas aflitas,
dimensões infinitas no meu próprio divã!
quimeras guerreiras, faceiras, bonitas,
quando que enfim, serão primavera?

Mim-to




As palavras mentem o que o cérebro quer esconder
O cérebro mente o que o coração quer dizer
A mão mente o que o desejo quer fazer
O gracejo mente o que acolho de seu ser
O olho não mente
Somente espera
Desespera
E o bocejo mente uma lágrima sincera