27 setembro 2010


"O mais escandaloso nos escândalos é que nos habituamos a eles."


Simone de Beauvoir

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Quero a doçura da poesia passada
Colher belos bagaços dos frutos
Transformá-los em vida

A magia do respirar
O oxigênio que falta numa dúvida
A palavra sôfrega se tornar riachos de sentido

O benjamim desse nosso mundo
A extensão de todos
Minhas maiores vontades são as tuas

Quero te fazer bem
Beijar-te a face
Os seios
Os seus frutos!

Quero dizer lá dentro do teu útero
Ele vai te amar
Com certeza, não há como ele não te amar

Pode até não gostar de ti
Não gostar dos afrescos no teto de seu quarto
Nas quais você tanto invoca, fecha os olhos muito forte
Vai te amar muito, tenho certeza

Das palavras mais impenetráveis
Não apenas a chave
Mas a dúvida, a raiva, o rancor, a mesquinhez
A doçura, a dádiva, o esclarecimento...

Não te dedico um dicionário
Te dedico um jeito diferente de ver o por do sol


20 setembro 2010

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Se acaso me vires chorar
Nas entrelinhas do destino
Não se preocupe não...
São mares de saudades que surgem,
Toda vez que vejo seu nome,
Pelas ondas que juntos navegamos...
Se por ventura me vires a sorrir,
Nos bastidores da rotina,
Só tenha uma certeza,
Ainda guardo em minhas memórias,
A lembrança daqueles mares,
Pelos luares que juntos nos amamos...



19 setembro 2010

Barco à Deriva



Todo esse caminho percorrido
Nos dias desse tempo de tormenta
Me preparava para a inconcebível
Chegada da noite.

Naveguei toda a costa do mar interior
E não pude encontrar satisfação em nada.

Nem um relâmpago revelado,
Algo que me sacudisse
Mostrando uma centelha de luz.

Um encanto que surgisse
E dissolvesse o horror do espanto
E apagasse esse presente.

Pedi que se estabelecesse,
Um poder transbordante e exato,
Que sacudisse e modificasse
A intenção deste barco à deriva.

Que o mar de lágrimas se tornasse
Um remanso de calmaria
E se pudesse chegar com coragem
Ao fim deste dia.

O Atalho da Vida




Somente em um olhar se sabe a verdade
O quanto dói uma traição
O toque que queima de falsidade
A mentira que sai de uma boca antes pura
Para ser infeliz não tem idade
É só dar o passo para o lado errado
Depois procurar no céu a cura
Para a doença do caráter descontrolado
É num ato impensado que desanda o bolo
Joga tudo pro alto ou pro lado errado
A folha presa na teia da aranha
Com o vento destrói todo o trabalho
Mas no fim constrói tudo de novo
É o caminho da vida pegando um atalho
Passa por uma ponte muito frágil
Que acaba quebrando como a casca de um ovo

VARIÁVEIS



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São as pessoas
Nossa paciência
Inocência
Uma garoa
A preguiça
O cão, o gato e a lingüiça
Variáveis são.....
Uma opinião, quando se tem algo a ganhar
A certeza, quando o assunto é beleza
As invariáveis ou não
O ponto de interrogação, e o de exclamação?
Sei não
São nossas amizades
Desigualdades
A infidelidade
A luta contínua da idade
Céu, inferno e aqui
Chora, grita e ri
Os olhos da justiça
Terra a vista
Um pouco de tudo
Um muito do nada
Um absurdo
Uma alma que afaga

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Num sopro sonho da manhã,
Avistei desejos a beira d'água,
Na sede doce de teus seios...
Sorvi em doses amadas bilíngües,
Todo aquele espreguiçar de moça,
Por quanto se aflorava em corpo sereno,
Cantando seus respingos d'alma pura...
Que vez por outra surgiam em encantos,
A iluminar minhas manhãs profundas de silêncio,
Recordando daqueles amores passados triviais...
Ah que saudades de teus beijos de brisa,
Quando passavas avoadas pelos meus quintais a contento,
Espalhando teus sabores e acenos,
Alegres contidos absolutos,
Que em risos ao dia floreciam,
Para deleite dos segredos das manhãs...

"INTEMPORALIDADE I"




E...

no deserto dos homens
estrangulados pela rotina
é a ti, só a ti
que eu vejo
é a ti, só a ti
que desejo!

Como se no ápice dum instante
possuísse todo o futuro

Junto a ti,
agarrei a alegria do sol
e o fruir salgado do mar
enquanto,
com os olhos cansados de te sonhar
chorei a ausência das pontes,
a incomunicabilidade
e a solidão
que em mim se instalaram
como as garras absurdas da morte

De Daniel à Karla (poesia encomendada)




Queria tanto dizer-te minha amiga
Que o que pensamos ser besteira
Nao o é, nem há outra maneira
Senão te amando pra que feliz eu siga

Que me encanta em ti cada detalhe
Mesmo sem querer, te vejo em tudo
Mesmo sem saber, és forma e conteúdo
Feito poesia que em mulher se entalhe

Que sonho preencher um dia o vão
Entre seus dedos com a mão minha
E nunca mais te deixar sozinha
Levar no dedo o nome já no coração

E dizer-te ainda que o melhor amor
É o que sabe ser o melhor amigo
E o amor mais sincero, está comigo
Feliz ou triste como sua resposta for

18 setembro 2010

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As tristezas virando arte
Uma arte nas ruas
Pixação de bocas
Narizes de palhaços pretos

Tudo o que os olhos vêem
A rua lotada
Não há nenhum perigo
Já não há mais tanta coisa pra pensar

O que fazer com isso?
O que fazer com tudo?

A boca fica impassivel
Gente passa de toda a parte
Mulheres andando nas calçadas e nuas
Nossas vozes de não gritar roucas

O que mais disso tem
Os postes da grande cidade desarrumada
Há tanta gente passando, eu digo
Há já agora muitas mais coisas para se pensar

O que fazer com isso?
O que fazer com tudo?

Dúvida inconsolável
Quando quedas num quarto para morrer
Já contesta a sua cidade
As suas pessoas

Partido indissolúvel
No mais de tudo ruim e de sofrer
Aprende com laços de amizades
A respirar, continuar sujeito mesmo que triste e que nunca perdoa

Incontrolável
Foge pelas mãos
Nessa manha tão cinza
Noção de qualquer coisa

Perdidos nesse universo palpável
Nem os deuses são mais sãos
Ele com a vontade tão distinta
Esquece a cidade, esquece as pessoas
Se concentra em algo que não rima...

14 setembro 2010

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Assim
Como se sumissem as palavras
O corta luz fez-se fogo

Ilumina chama eterna dos dias
Ilumina esses vazios
Cá está uma tremedeira
Que não sei dizer o que é
Mas sei que é ruim
É muitissimo ruim

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Amar-te-ia com vogais telúricas
Este canto acaso da paixão que sinto,
Toda vez que te vejo passando em frívolos risos,
Ao tempo deste instante aceno casual,
Para meus tímidos olhares de segredo
Que aos poucos vão preenchendo de cor,
Pétala por pétala os jeitos e gostos desta paixão...



11 setembro 2010

O Meu Tom


Pegando as sucatas das poesias criei essa
Larguei a moderação e o respeito
E com despeito, no bolso guardo minhas mãos
Joguei meus restos nesse papel nada higiênico
Tudo para expor o que há do nada somado ao vazio que sinto

Minha má trajetória não é um mito
É por vez uma solitária que se alimenta do pouco que me faz bem
Tornando meu tormento um pesadelo infinito
Um parasita que no meu corpo habita nesse momento nada zen

Da tristeza que há, mesmo que no fundo, em qualquer sentimento bom
Passado para o papel de um modo íntimo
Em letras pretas, tortas e falhas
Que almejam transparecer o meu tom.

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Podia ser diferente,
Se não perpetuasse tanto neste princípio rotineiro,
De vagar aos tropeços pelo dia sussurrado,
Buscando algo diferente neste universo sempre igual...
Por vezes ainda me vejo longe daquele sonho,
Quando vivia num casulo momentâneo das razões,
Sorrindo da ilusão dos loucos,
Para puro deleite de minha vã filosofia...
Outros tempos viriam e num espelho se refletiram,
Como se escutasse a mesma melodia infinitamente,
Sem perceber o tempo me aprisionando,
Em seus redemoinhos casuais...

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Muito se é
Muito pouco
Pouco de muita coisa sobra
Vende-se o nada
Aluga-se o tudo
Somos poucos
Um pouco em cada coisa
Não sabemos direito a força
Há forças nesse mundos
Imperiais
Magestosas
Hérois errantes
Destruidores de vilas
Conquistadores de impérios
Vigas em ciclo perpétuo
Construções em toda a parte
Em multiplos lugares
Errôneos, quase sorrateiramente
Fechados nunca

Quando muito se perde
Quando muito se ganha...
Quando tudo pede um pouco mais de calma
Compaixão, facilidade, acesso, caminhos
Pontes, estradas, rodovias
Metrôs, trens, aviões
Cidades, Municipios, Estados
Países, mundos, galáxias,
Universos...
Anos luz de distâncias
Desse martelar arterial
Bombeando o coração
Em forma elíptica
Através de toda a órbita que fingimos desconhecer completamente...

Um Moinho


A travessia é dura
Dias de chuva, noites de frio
Dias bem quentes, noites sombrias

Nesse caminho confuso
Nessa estrada sem placas
Entre o reto e o obtuso
Todos afogam suas mágoas

Com a bota furada
Pisando em barro ou em pedra
Pronto em pé ou na queda
Tiro o melhor na caminhada

Se encontro uma rocha grande
Serve para descansar
Se encontro um mar
Sou filho de navegante

Se a fome quiser ser minha sombra
Como um pedaço de pão
Se não saciá-la
Posso matar um leão

Tudo posso e tenho
Se a força não me faltar
Como um moinho de água
Que mesmo se o poço secar
Usa o vento pra roda......
Nunca parar de girar.

Praias em dia bom e fugidio

O andar desprotegido
por areias mansas
nestes dias de ressaca
amena, o quanto sorvi
deste mar tranquilo, do meu peito
insone,
foi desconcertante, sereno
e justo o sono entre os braços
dos anjos dos montes
de todas
as direções.
Éramos homens apenas.

05 setembro 2010

Os quatro elementos


Meu nome não é forte, mas nem precisava ser.

Se não conto com a sorte pra o que tenho me prover.

Caminhos da minha vida sempre foi lugar comum.

Mas sinto que, por dentro, não sou apenas mais um a vagar.

A espera que a vida possa me ensinar a curar toda a ferida, que teima em não cicatrizar

Não gosto dos meus versos, de rimas baratas.

Percebo que pra mim, sentir é mais fácil que falar.

Queria ter o dom de todas as palavras, perfeitas,exatas pra que você entendesse, o que não consigo explicar.

Que é só pelo sentimento que posso transcender meus holocaustos, meus lamentos e assim me conhecer.

Tento encontrar em formulas a face da minha verdade, mas nem mesmo consigo controlar esta ansiedade.

Não sou um sonhador, só um homem com muitos sonhos, planos, desenganos.

Talvez só falte em mim a dose de realidade.

Na verdade é na grandeza do universo eu posso flutuar.

Mas, se minha vida é um sonho, preciso acordar e viver.

No sol que invade a serra, no riacho que desce o morro.

No ódio que vem da magoa de não saber amar.

Na força que vem da terra, na febre que arde o fogo, na mansidão desta água e na leveza do ar.


Não, não guardo ilusões de abrigo
Só anseio por caminhos e labirintos
Eles me invadem sem pedir licença
Torturadores silenciosos que são
Não esperam meu próximo gemido
E já me condenam à próxima dor

Lastimosa presença soturna
me embriaga de desesperança
Para que minha visão se alterne
Entre cegueira insensata
E luminosidade angustiante
A loucura me acalma

A crueza da vergonha me cerca
Por saber que não me pertenço como deveria
Pois fui predestinada a ser Deus
E sou só ínfima vontade perdida
O meu ventre me condena pela fertilidade
Mas me liberta pela volúpia

Lúgubre sentença de excomunhão
Minha fogueira é sempre maior
Do que a minha devoção ao caos
É como chama que se alastra
E licenciosamente me condeno ao prazer

Torturadores se pasmam
Diante da minha indecente indiferença
A minha carne reage ao chicote
Com o desdém dos que estão mortos
Mesmo assim eles se refastelam
Na esperança do meu gemido


03 setembro 2010


Choviam flores margaridas pelo quintal,
Minha pele sentia o roçar dos beija-flores passando,
E algumas rugas já surgiam nos leitos dos rios,
Era época de antigamente...
Uma criança tímida observava num canto a meia luz,
O movimento dos clarinetes em seu arvorecer soturno,
Que num sopro infinito invadia o silêncio dos sonhos...
Logo chegariam seus desejos e apetrechos...
Viriam para seu despertar incógnito...
A criança crescera... era um menino agora...
Seus antigos sonhos sobrevinham ao tardar dos olhares,
Entre beijos de jasmins cor de açúcar e perfumes de terra achocolatados,
Era primavera nos confins dos amores...
Mais uma vez o menino retornava para seus antigos sonhos,
Onde ficava a devanear com seus olhinhos solitários,
Os encantos curiosos de sua outrora infância,
Por tantas vezes um paraíso de ramalhetes risonhos,
Por tantas outras vezes um segredo de lágrimas casuais...

Palavras no Ostracismo



Buscando palavras certas e não acho
Me desfaço para encontrar, me acabo
Em uma sombria mente vazia, capacho
Encontro algo sem importância, pequeno
Mastigo, torço, espremo, para sair algo
Minha amargura do "procurar" fica ameno
Começa outra no lugar, novamente
O que fazer com as poucas palavras, tormento.


Não consigo sinceramente me recordar de você
Só sinto você em todo lugar que vou
Não me vêem figuras
Não existem imagens, na verdade
Voando em passarinhos
Correndo em cachorros
Depois dos vidros enxergo cristais
O vinho está tudo nisso
E nesses copos e cálices que tomo
Nem ao menos o seu beijo me entorpece
...