27 novembro 2010



Estrelas...de um céu escuro.
Estrela que urgem um futuro.
Tão louco e inconsequente,
Negro e indiferente.

Invioláveis nas nuvens que a encobrem,
miseráveis lástimas que as dissolvem.
Escorrendo lágrimas entre os ventos
afundando na terra eterno lamento.

Tão miserável seria, se a esperança trouxesse a agonia.
Dilaceramente envolvido, secretando o medo escondido.

Pedir-se-ia a lua que voltasse com seu fulgor.
Para esconder essa dor, em alguma constelação perdida.

E nesse céu profundo que insiste em tragar o dia,
mais uma vez, o céu choraria, lágrimas vazias.

Desse eterno dissabor.

Cético



Quanta pouca coisa eu vi
naquele instante sobre a mesa.
Poemas esbugalhados,
rimas tensas,
sonhares avulsos.
Sobre a mesa e sobre os livros
abertos
deixei calados meus óculos
ébrios.
Estavam calados os textos,
era um tempo de relógios parados.
Arriada a cadeira,
sentei-me na beirada
da cama
a pensar
sobre tudo, sobre nada,
já um tanto mais velho
epilético.

Eu



Eu sou um cara empolgado
Ando por muitos caminhos
Faço muitas coisas, realmente me dedico a elas
Por pouco tempo

Eu penso muito em mim
Quem eu sou?
O que eu quero ser?
Me sinto como sendo extremamente ambicioso
Carente de uma riqueza que o mundo não me oferece
Uma riqueza invisível, que eu tento enxergar, vejo um vulto dela
Sinto seu cheiro pela minha língua
Ouço através do tato
E não faço idéia do que é

E eu me vejo como um corredor que traça muitos caminhos
Não conhece nenhum direito
Não conquista esses lugares
E eu me vejo como um mergulhador, que mergulha muitas vezes
Tenta mergulhar tão profundamente quanto possível, mas perde o fôlego
E volta pra superfície

Mas a cada mergulho meu fôlego melhora
Eu mergulho mais fundo

Mas a cada caminho meus músculos se fortalecem
E eu corro mais

Percebo que essa é minha ambição
Minha ambição sou eu
Me melhorar
Me conhecer
Simplesmente seguir com essa vida
Curtindo cada estrada
Cada mergulho
E pensando em como serão fundos os mergulhos
Em como serão esplendidas as estradas

Inocente e Réu

Onde andei, por caminhos difíceis, sombrios e íngremes
Descobri a esperança, o renovar de cada andança, caridades e crimes
Passeando e observando no caminho, pássaros que vão e vem com gravetos no bico
Lembro de outras épocas, ninhos de cantos e gemidos.

Uma vida de baixos e apogeus.

Sinto saudade, sinto o perdão que outrora não conhecia
Aprendi, durante esses anos vividos, a amar e saciar a quem me sacia.

Doar-me mais e cobrar menos, a ser moderno amando o eterno, ser bom aprendiz
Aprendi a controlar minha raiva, ter paciência, pisando em ovos passando feliz.

Nesse caminho, a luz de fogos, declamo mansinho os versos teus
O vento mexe as margaridas, campos de trigo, a minha vida, baú de amigos.

Em outra vida eu fui um rei, ou fui um príncipe, bobo da corte ou um plebeu
Quem sabe hoje eu te visito e faço um bolo aos sons antigos.
Só tu e eu.

Na paisagem de tua janela, de frente ao lago, o pôr do sol
E no crepúsculo, ouvindo os sapos, os violinos, clave de sol
Sinto o toque divino, no verde e no azul piscina do céu
Vejo que ainda sou menino, sou desde pequeno, inocente e réu.

Todos Iguais



Mas era apenas um simples aceno de adeus
nada mais do que um aceno
nem um grande e definitivo
adeus triste solitário e final
Páginas do tempo amarelado e frio
desbotaram
páginas marginais dos tempos esquecidos
puídos
das maquiagens sociais
totalmente profissionais
O inclemente espírito aleatoriamente inserido
o dilacerante
o circense
o psicopata
o cru
Nenhum de nós esconde o trivial
o banal
momento de angústia
o repelente estado emocional
o vício eterno
das virgens,
dos sacerdotes fabricados a bordunadas
de explêndidos mantos clericais e ordens divinas.
Nos alimentamos de pizza
de strogonoff
de salsichas
Nós amamentados atualmente matamos
Nós fomos acariciados e banhados por anjos
mas
Nós agredimos e temos língua ferina
nós somos o bicho
maldito
Nós promovemos a guerra perpétua
entre os seres iguais
Nós somos o Colosso
um caroço
Nós somos um perigo.

20 novembro 2010

Pois o amor...

Pois o amor não é algo que se ganha
Que se perde
O amor não é algo que se escapa
Que tem capa

O amor não desce do rochedo
Se não faz se atacarem de lá
O amor não faz morrer
O amor faz amar

Digam que só o querem
Sendo que não o exercitam

Amar é uma coisa diferente
Tem haver realmente com dar

Quando a gente ama de verdade
Não importa o amor
Sendo que só ele importa

Sendo que na falsidade
O importante não é o amor
O importante não é amar

Anseios da relva essas diferentes formas
Quero desistir do gostar
Me concentrar na ação 

Amar depois do antes do gostar

Labirintos



Agora
somos só o prazer de buscarmos insones
sonhos por realizar.
O tic tac marca a distância.
Nossos olhos vagueiam sem direção.
Nosso dedos tamborilam mil perguntas
atropelando a mente.
A alegria do encontro parte antes da hora.
No assento da lucidez façamo-nos poeta!
Fiquemos na janela... 
Esperando que abram os umbrais.

[procura]



O que vês ao olhar no espelho?
Vejo um rosto pálido
Sem luz
Sem brilho, nem cor
Vejo olhos fundos
Perdidos no vácuo
Um buraco delineado com as curvas do seu corpo

Olho no espelho
Sinto a chuva molhar meu interior
Busco braços
Anseio abraços
A chuva inunda meu rosto

Falta o ar
Falta o chão
Falta você
Falta a verdade
Falta um reflexo

Falta me ligares e dizer
: "Voltei."



Pedra bruta a margem do caminho.



Poderíamos ter feito
daquela dança ao vento
uma história,
sem precedentes.
A música e a aurora,
o balanço dos corpos,
nossa metástese.
Mas, não! O sim caído
moldou-se ao chão.
As notas descuidadas,
intranquilas,
frouxas,
os sopros arrebatados,
caiados,
os vincos da paixão...
seara restrita de arroubos ligeiros.

<*>





Desatar os nós é difícil
Como cortar os pulsos
E correr um longo caminho com final bifurcado
Que rumo escolher?
Aceitar a solidão,
Ou insistir na negação da negação?
Tanto faz
A corda já está no pescoço
Sinto o ar sufocar
Afogar a velha verdade
A vontade inventada
A verdade fingida


Permaneço estática
Com um sorriso de acessório
Que sempre cai
Como um girassol num dia nublado


Basta pensar em você

**...



Quando éramos livres
Não nos preocupávamos com nada
Os problemas eram soluções
Passageiros do trem mágico
Em cada gota de suor alguma recompensa
Em cada opção um sorriso


Ai vem a incongruencia das serras
A diferença do mar e das montanhas
Fica-se sem se falar por muito tempo
Observando


Já não é nem mais serra
Nem montanha
Nem mar
É apenas tempo


Quando o tempo do tempo
Te prepara emboscadas
Vem os pensamentos quadrados
E as pessoas mais quadradas ainda


Antes brincávamos de sentar uns nos outros
Hoje isso é um pecado
Quase que mortal


Não se incomoda
Pois incomoda-se
É dificil ser assim...
O que um lado quer de mim, ou outro não quer
Já cá no meio
O trem passou


Deixa-me apenas uma mala
Já não há tantas coisas
Nós eramos muitos
Nas dúvidas e questionamentos
Cada um desceu numa estação diferente...

"O TEMPO E O GESTO"



Tenho um relógio em cada gesto
marcando o tempo da eternidade.

Não, não tenho data nem idade
sou apenas contemporânea
deste momento e a verdade

é
que já fui raínha de cada instante
amante do vento
esperando a Primavera.

A irmã renegada
duma revolução frustrada
Capa de calendário
amarelecida pelo tempo
mascarada de D. Quixote.


Nem o vinho regressa
á boca onde foi festa,
nem o beijo à boca
onde foi útero

Crepúsculos



Vamos tocar essas cordas tensas de sangue.
Arbusto vivo queimando o momento.
Lava de pedra incandescente,
Recriada entre os risos das ondas.


Bocas que ardem mordidas,
Dedos presos, inacessíveis ao toque.
Gritos de espanto
Imaginando a melodias cadenciada
E o ritmo escarlate do coração arrítmico
Batendo dentro do ventre.


Espírito navegante,
Agitando-se alucinado num barco frágil,
Dentro de um mar viscoso.


Somos resina líquida
Empoçada entre as coxas.
A alegria brota em cascata
Pelos vãos da noite.


Bebo sua voz, seu caule tenso que ferve.
Sou deus sob sua sombra
Que esmaga a loucura de meu ventre.
O fogo que é teu me incendeia.
O mundo nasce das fendas arrebatadas,
E dos espasmos encontrados
No caminho dos nossos crepúsculos.

Lembrança


Deste tudo que me lembro,
Você é quem está
Na vigília dos dias
Em que tremi.


As margens cobiçadas
Do meu leito,
Os lençóis que voavam
Pelo quarto
E o caminho da boca
Que se multiplicava
Saltando na sua sede.


Por trás dessas lembranças,
Ouço o farfalhar
De um corpo que se dobrava
Desvairado, sem sombras
Da solidão dos dias.


Saltei no abismo
Encontrando teus braços
Que me mostraram
Caminhos e cavernas quentes.
E no fundo de um leito,
Um lado a lado
De nós dois sonhando.


[à busca]

Cansei de fingir
Fingir que estou bem
Que sou forte
Que vou superar


Parei com os sorrisos
É tudo uma falácia!
Para que lábios reluzentes, se os olhos não tem alma?


Sorrisos... são pra quem pensa enganar a dor...


Levo dúvidas ao espelho
Me diz o que já sei


Meias verdades são meias mentiras


Delas já estou farta!
Já não me interessam...


Ao pisar firme, caio
Mergulho no vazio
Atraco-me à dor
Ela me devolva à ti
Mas não te encontro


Onde vais?
Por que não senta aqui?
Afaga meus cabelos
Sussurra: "Quero-te..."


Sinto-me tonta
A cabeça gira
Meu peito enche e a garganta trava
Eu solto...
...o choro desce...


Cadê você?
Por que não estás aqui?

"OLVIDAR"


Já esqueci as palavras
e dos gestos apenas 
as penas
tais como restos
onde o frio adormece.

Já esqueci os apelos
e as secretas alegrias
por entre os escombros do tempo

me sento à beira dos dias
como se fosse de um precipício

lavando as tatuagens
qual indício ou escória
que por tanto as lavar
quase me sangram a memória.

Meu poema final




Ponto final, não escrevo mais!
Podem perguntar, explicarei
A escrita não mais me satisfaz
Ela morreu, longe do apogeu.

Picotei todos os papiros
Sabotei as anotações
Juro pelo ar que eu respiro
Não quero ter mais inspirações

Fui no fundo do poço
E lá só encontrei moedas
Parei de roer o osso
Queimei papéis e quebrei canetas.

Não mais conjugo verbos
Não me preocupo com pontuação
Digo adeus para prosas e versos
Rimas, só de ocasião

tenho o atestado de óbito
Já mandei fazer a lápide
Quero letras garrafais
Escrito em braile e hebraico
"Minha escrita aqui jaz"

14 novembro 2010

"INACRIATIVIDADE"


Deitado em meu leito de morte
Há meses sem nada escrever
Não cicatriza o meu corte
Navalha da "inacriaticvidade" do meu ser

Sinto que a vida irá esvair-se
Quando a inspiração acabar
Escutarei berros no ar
E tomará posse a mesmice.

Sinto toda pureza explodindo
O doce do mel foi-se à fel
Bocas banguelas sorrindo
Pintado de ocre o céu.

Sinto o poeta moribundo
Tentando achar no avesso do mundo
Sua força e vontade de viver.

Me acorde desse pensamento ruim
Que me veio em um estalo assim
Pesadelo que nunca irá ocorrer.

*

Está chovendo!
Vejam que maravilha
E não são meus olhos
Chuva que lava a alma
Move pedras
Abre caminhos
E arrasta junto essa lembrança que assombra as noites
Molhos meus pés
Sinto o cheiro bom de chuva
Ai...
Vontade de sair correndo na rua
Brincar de chutar água
Voltar a ser criança
Chove chuva!
E mata essa sede de felicidade.

.

Estávamos por ai...
Ao vento que apruma nossos olhares,
Passeávamos convexos indecentes outonais,
Feito folhas desgarradas pelas estreitas alamedas,
Rindo em labirintos sem fim,
O doce riso dos amores...
E assim ficávamos...
Entrelaçados no varal dos desejos,
Acastelados em sussurros risonhos,
E vez por outra parávamos,
Para fitar um ao outro,
Simplesmente...


HOMEM PENSANTE



Quase nunca ia até a janela
O risco de ser livre era grande
Jamais se deitava pensando nela
Ficava mudo para não ser falante.

Não se olhava no espelho do quarto
Tomava banho com medo de se afogar
Vivia dizendo que não nasceu de um parto
E tinha sido um pássaro que lhe ensinou a falar.

Todos estavam errados menos ele próprio
Só ele sabia a maneira certa de andar
Fraquejar era seu brinquedo nobre
Jogava dia e noite com o seu "amar".

Buscava no fundo da alma todas as perguntas
Passeava sempre dentro do próprio lar
Via animais e pessoas sempre ocultas
Sabia que o mundo inteiro não era o lugar que ele deveria estar.

Ciúmes

Quando me vi sozinho
E te vi em outros braços
Fui bailar enfim os passos 
De tristeza em meu caminho 
E a cada rodopio feito 
A cada pele que não minha 
Doía um pouco o meu peito 
Doía a alma, tão sozinha! 
E se eu quis partir mas fiquei 
É porque assim deixaria perdida 
Logo aquela que eu tanto pensei 
Ter em meus braços por toda a vida 
Se de doer aos poucos, tão pequeno 
Fica o coração dentro de mim
É porque a angústia é grande assim
Como o meu amor por ti é pleno