26 agosto 2014

CIDADE


Que será do homem
que não sustenta
a sua fome
com pão, leite, feijão e ar?


Nada é menos livre
do que a fome
que mata o homem
e nada é mais livre
do que a palavra
que a revela
sob o sal das horas


Que será sob a cidade
do homem
onde não há lugar
sequer às letras noturnas do luar
aos peixes claros da alma


Que será do menino
que vive nele
a idade é mineral
emocional
e o tempo
esse cadáver embarcado
nos enche de mau
cheiro e de morte
a nos salvar


a música da esperança
o eterno pássaro
de nossa herança


Que cidade é esta
que nos cerca de luzes
mas apaga o feltro
de nossa infância
a febre de nossa voz
e deixa-nos ancorados
às esquinas
fotografia de fumaça e neblina


Que homem é este
que não se sustenta
que a fome o come
a partir do nome operário