26 abril 2016

CARINHO


O sol e todo este carinho imenso 
embalado na luz e no calor.
O sol e eu aqui ficar, distenso,
com este parque inteiro a meu dispor.

O vento um pouco incômodo é uma quebra,
mas este sol é só compensação.
Humildemente, meu olhar celebra
trazendo bem-estar ao coração.

Tão simples e completo à mesma hora,
ao mesmo tempo, simultaneamente,
sem defasagens ou contradições.

Um’alma livre já não ri nem chora.
De liberdade sei o suficiente
para estar preso ainda às emoções.


09 fevereiro 2016

MULHER AO ESPELHO


Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.


01 janeiro 2016

BEM NO FUNDO



no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas

resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas



A cidade não pára
a cidade só cresce
a cidade não se cansa
A cidade só dança
Freneticamente me espanta
Para onde minha alma se lança
Para onde o universo se desencanta
A cidade é musical
e deseja cortar meu pau
a cidade tem passos de formiga
a cidade nunca foi minha amiga
A cidade tambem se desativa
Quando pelos seus labirintos
O cruento medo se avista
a cidade esqueceu sua folha
a cidade é uma velha moça
que deseja a fonte da juventude
a cidade se perdeu no que se discute
se afogou quiça no meu delírio
e tu poeta dizes o que do meu quarto diviso….