20 fevereiro 2011

É que aquele tinteiro
Chamava a caneta
A caneta bailava sobre o papel
Girava sobre um pêndulo triste
No manicômio de nossas máquinas
Correções de branquinhos que escrevem
Palavras em brancos fortes
Retas
Com propósito
Levitando tudo com o pesar dos males dos reais obscuros
O armário
Dedos e dedos pendurados
Sobre os materiais guardados
Que não queriam sair pois havia um medo que enrustia o rústico
Plastificava o plástico
Desmitificava os santos mitos
Tetos de granito
Marca texto que grifam inferno
E são amarelos
Não são vermelhos
Nossas linha é azul
Devia ser roxa
Toda essa tinta esparramada é dessa cor
Cor das beringelas misturada com a imensidão dos mares
Pares opostos
Que a gente nunca via
As metades das maças
As metades das peras
O tinteiro que na ansia de escrever
Ria do lápis
Pois o lápis sim
TInha remédios
Tinha a santa mãe borracha
Que não o deixava
Ser profana
Já ele não
Ser tinteiro
Já se coagulava caneta
Assim se fazia esperto
E nos almaços dessa vida incongruente
Saia dono de si
A espalhar a noticia nesse vago mundo
Eres um filho da civilização
Que espalha a sua própria violência
Pelo seu própria mundo
Pela sua própria devassidão
Não poupa a palavra
Não poupa as anáforas
Come metáforas
Devora hipérbolas de muito nada
Usa de formas defloradas
Anacronismos, passadas
Caneta filha pródiga!
Do tinteiro!
E essa vontade sub humana
De se tornar aço
Pra que nenhum almaço
Seja invadido
Por gotas de cristal em seu vasto azul, vermelho, verde litoral
Nessa e outras
Feito muleque que brinca no balanço
E volta e meia me canso
As palavras acabam
E a caneta sobra linda, mas sem vida
O tinteiro sobra sem vida
Mas como base
Eu como corpo
Completo e multiplicado corpo de diversas e infinitas fases
Que vê apontadores
Lápis afiados
E borrachas para todos os males
Procuro em remédios
Talvez o mal para um
Que me seja o sono
Não ganho o ônus
De produção alguma
Sou meio que
Um tinteiro
Que escreve a lápis
E minha consciencia
É uma borracha maçiça

Um comentário:

Dalva Abrahão disse...

.
Amei Cell, maravilha de poema!
Nessas vidas escritas, precisamos mesmo de lápis, papel e borracha para que possamos apagar os erros.
[b]Bjos querida.