20 fevereiro 2011

Kandinsky


Não gosto da poesia
Sem nexo
Sem sexo
Poluída

Não gosto da poesia
Sem dor
Sem fulgor
Amor

Não gosto da poesia
Sem cortes
Sem pobrezas
Cortezias

Não gosto da poesia
Sem banalismos
Sem fatalismos
Cem abismos!

Não gosto da poesia
Sem lastros
Sem calibre
Bala sem destino

Não gosto da poesia
Fim da linha
Começo dos fios
Gosto dos novelos

Não gosto da poesia
Bola pra cima
Bola pra baixo
Gosto de bola nas redes

Não gosto da poesia
Esportiva
Amorosa
Patativa

Gosto do Patativa
Gosto do Amor
Gosto dos Esportes
Não gosto da poesia

Em específico
A minha
Não gosto da
Poesia

A poesia
Náusea
A poesia
Tédio

A poesia
Bossa
A poesia
Sacrilégio

A poesia
Alegria
A poesia
Banho

A poesia
Tosa
A poesia
Chuá Chuá

Não gosto da poesia
Patética, epilética
Aquela que vem
Em pequenos goles

Não gosto da poesia
De palavras fugidias
Remetem ao nada
E me perco no horizonte

Não gosto da poesia
Que quer ser mais do que
Simplesmente uma
Poesia

Não gosto da poesia
Que diz sobre mil orgias magias
E depois nos outros versos
Uma lenta utopia

Não gosto da poesia
Da falsa ficção inventada do dia a dia
Quando no dia a dia
Não quero me desvincular do meu travesseiro molhado

Não gosto da poesia
Quando ela de mim desprendida
Dá margem a outros sonhos
E deixa os meus à solidão

Não gosto da poesia
Quando assasina uma margem
Fico assim na beira do nada sem saber
O que colher, o que escrever

Não gosto da poesia
Em seus frios dias a dias
De esperar a lenta agonia
De saber o que fazer

Não gosto dela
Quando vem de mansinho
E no meu ouvido recita coisas tais como
" Sei que você chora
Porque chegou ao fim
Mas digo chore por mim
Chore por mim
Eu chorei tanto
Por você"

Não gosto da poesia
Minha negra e vermelha escura chaga
Que bate apertado feito martelo
Nas coisas que nunca previ ser

Não gosto
Mas não sei se ela
Ou eu
Me escolher a ser

Não gosto da poesia
No meio de tanto poeta
Não sou poeta
Pareço"cristão"

Nenhum comentário: