19 fevereiro 2011



Não sobrou mais poesia
No fim
Dos dias

A casa estava vazia
Cinco quadros
Uma tv

As pessoas chegavam
Se sentando
Minha mente ia se levando

A janela clara
De repente ficou escura
E acendiam isqueiros, queimavam charutos

Na rota funda
Muito mais que oriunda
Me elevo, enervo

Xadrez dos anjos
Peão suburbano
Cavaleiro andante de outros planos

Em mil desvios
Mil malas, mil extravios
Duas identidades; em uma só

Poesias vagas
Esparsas
Ficaram nas pegadas

Palmadas, lavadas
Sujas e que se limpam e estremecem
Ar e água

Terra e fogo
Que piso e corro
Mas não fujo

Sentado
Aqui
Os quadros se entreolham

A tv nos celebra
Nos canoniza
Nos protela

Carne de poucos
Muitos poetas
Extensos escritos

Vários, vários gritos!
Mil pretensões!
Talvez milhões, de senões!

Turbinas eólicas
Maremotos
Terremotos

Erupções
Ritmo
Sinfonia

São discursos prontos nas maletas!
São exércitos recitando Camões!
São pátrias de Pessoa que repudiam as pessoas!

Meu deus...meu deus...
De tercetos assim
Digo adeus

São poesias mesquinhas
Que todo mundo faz
E eu faria melhor que eles?

São sentimentos sublimes
Que todos tem
E eu seria melhor quem alguém?

São casos e mais casos
De casos algum
Quem matou a personagem?

Quem usurpou o narrador?
Quem tomou posse do oral?
Quem acha realmente luveres da Grécia?

Grécia antiga
Linda
Passa na tela colorida

Esse mito de que tudo grego
Era melhor
Era divino, era puro

Bárbaros somos feito eles
Que explodimos prédios
Que matamos nossos irmãos espartanos

Álamos, deuses alados
Até hoje suspeitamos
Que Jesus é o ser que tanto invejamos

É branco, loiro, de olhos azuis
Jesuis!
Mas que cruiz é essa!

Que estátuas de marfins são essas
Nesse mundo...
E a gente fica vendo tv, e comendo pipoca

Cala a boca!
Já disse, cala a boca!
Seus imbecis!

Pois agora
Se é feio e bonitinho dizer
O que há de se fazer?

Blogs do caralho
Literatura em vão
Eu escrevo com sangue
È por isso que a poesia me falta

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