19 janeiro 2011

Um Poente

Queria te ter como uma sombra
Que passa sem deixar vestígios.
Que fosse só silêncio extremado,
Que não ondulasse sua ternura
Sem medida e sua voz de doçura.

Que deixasse o pó em paz
E as folhas soltas,
Ancoradas em meus dedos.

Que fosse apenas como
Um salgueiro quieto, sem ventar.
Estivesse apenas para existir
E resplandecesse para eu te olhar.

Que fosse música quando
Eu me despedaçasse no chão
Como vaso de cristal
E fosse silêncio enquanto
Eu derramasse palavras no papel.

Que não cantasse a minha volta
O seu bem querer agonizante,
E me mostrasse sua corda tensa
E corrompida pelos meus invernos.

Que atravessasse calmamente
Esse mar sem farol,
Enquanto minha noite
Delineasse um poente para nós.


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