21 janeiro 2011

Na Superfície do Mundo

Feliz ele que nunca perguntava,
Que desconhecia as palavras,
Que não sonhava e vivia arrebatado
Da miséria humana.

Ele que não conhecia caminhos,
Nunca se perdia perseguindo sonhos.
Andava as cegas, silencioso,
Coagulando-se no tempo.

Vivia sem compromissos
E sua órbita lenta não palpitava.
Não valorizava a vigilância
E não teorizava em torno dos elementos.

Estava no avesso do mundo,
A beira de um penhasco sem se dar conta.

Talvez, quem sabe, ele não visse as coisas,
Porque já as habitasse.
Estava somente na formação da bruma,
No vento quando ainda não era.

Vivia na superfície do mundo
Por sabê-lo inteiro e sublinhava desenhos
Parecidos com constelações.

Esse seu mundo se abria
Em infinitas variações que somente
Num duplo espelho se permitia ver.

O seu mundo era um sopro sem resistência.
Ele, que pensavam que ainda havia de ser, já era.
Absoluto naquilo que esperavam.
Seguia sozinho, quando o chamaram.
Ia com uma vela acesa nas mãos
Mostrando o caminho.



Nenhum comentário: