19 janeiro 2011

Flecha da Noite

Fui retirada de meus aposentos
Quando a lua estava em esplendor de fogo.
Lua imensa, pronta para os rituais sagrados.

Banharam-me com leite
E escreveram rezas sob minha pele.
Solenes poemas de signos encantados
Para transformar as marés.

Queimaram minerais e incensos
Para os deuses adormecidos
E eles acordaram.

Vestiram-me de folhas
E amordaçaram minha boca.
Vi olhos de tenazes, fosforescentes,
Envoltos em trovões.

Uma visão atormentada de braços abertos,
Para receber um corpo incandescente.

Fechei os olhos para ouvir
O canto ondulante e embriagador da cerimônia.
Cada nota saltava contagiosa
Sob o pentagrama dos meus dedos.

Todas as coisas foram se distanciando,
Os clamores, o medo,
Até que me aquietei para receber
A flecha da noite.




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