20 março 2011


Eu queria apenas te dizer
Que escrevia tanto
Porque é tanto
E eu não sei como descrever

Por isso tento como posso
Amarro a trama
As vezes dobro o papel
E amasso

Não é por algum disparate
Ou ordem social
Levante moral
Ou tentativa leviana de burguesia tardia

Meus versos não falam por si
As vezes tenho que os gritar de mim
Porque muito deles
Sou eu mesmo que fiz

E os belos
Talvez os mais duradouros
E menos efêmeros
Sejam os que falem de ti

Você que é tão sem nexo
Que acentua sempre os circunflexos
Não se perde em qualquer parábula
Foi achar uma função para mim

Isso eclode na praia
Mesmo que muitos dramas
Faltem talvez as tramas necessárias
Para ser algo tão sofisticado

Não faço versos modernos
Alguns versos meus
Acho que até já nascem mofados
Ai, pergunta-me, a vantagem?

Nenhuma...
Faço versos feito pluma
Não quero odes, ídilios, não quero sossego
Não quero guerra que me martirize

Faço palestras, corro nas arestas
Brilho sem rumo
Saio sem prumo
Procurando o que fazer

Talvez dê aula na praia
Ou ensine os meninos da Somália
Fale com o filho da Ananda
Volte em um onibus para Ruanda

Enquanto isso, com isso
Sou eu
O unico a perder
A vencer

Eu não protesto
Porém não fico parado
Sou marchista dos anti pelegos
E pelego dos marchistas

Uma vez me hastearam a bandeira
Disse a eles
Mas nem se fosse, a de Manuel aceitaria!

Já disse
Não sou modernista

Já disse
Não sou modernista

Já disse
Não sou pós, pós modernista

A gente escreve versos sobre o nada
Mas será que realmente
O todo interessa tanto assim?

(Para isso serve o cinema, oras...)

E nossa vida é mais interessante que um filme

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