15 dezembro 2010

As Palavras



Ela não podia mais deixar
As palavras soltas pela casa.
Eram palavras ocultas
Que queriam surgir.

Seguiam-na como soldados,
Desfilando, implorando um lugar
Num poema qualquer.

Queriam ser invocadas
Por alguém que ama,
Que clama por uma lua.

Como pisca-piscas giravam
No alto da sala,
Perdiam o rumo do papel
E se instalavam numa província
Ao lado da escrivaninha.

Conspiravam entre elas.
Esperavam a inspiração chamá-las.

De repente, o céu se mexia delicadamente,
Juntando nuvens de algodão.
O violino tocava a ária da espera e
Ela dançava dentro da moldura do retrato.

As folhas se juntavam alinhadas
E as palavras enlouquecidas
Organizavam-se entre elas.

Dentro de uma visão matizada
De encantos obscurecidos,
Saltavam aos punhados
Defendendo seu pequeno espaço.

Enroscavam-se em suas idéias lascivas
Perdendo-se em lençóis, flores, beijos estrelados.
Até, finalmente caírem
Sob a folha em branco, esgotadas.

Nenhum comentário: