12 julho 2009

O Cristal Negro



Procurando alguma coisa em mim
Abro a velha caixa de jóias
Dezessete anos bem escondida

Querendo uma resposta ou uma pergunta
Assopro a poeira
Lembranças cambalhotam pelo ar
Girando anos todos em segundos...
Olho a caixa inteira
Uma pedra atrai o meu olhar
Fisga meu desejo e o atiça
É a mais fácil de pegar
É a que brilha mesmo sem brilhar
É meu cristal negro.

- Não há com o que se preocupar
Ele me diz
Não, não há
Seu mistério lustroso me hipnotiza
Sua escuridão ofuscante me cega
E os dias rolam ladeira abaixo
Os sorrisos passam despercebidos
As minhas perguntas morrem antes mesmo de terem nascido
As respostas são sempre as mesmas
Grasnadas pelas sombras dos corvos que vagueiam dentro
De meu cristal negro

Cego, ensurdeço, emudeço?
A quem pergunto?
Ao meu cristal negro
A quem aguardo?
Meu, meu, meu
A quem obedeço?
Ao meu cristal negro
A quem eu morro?
Meu, meu, meu
A quem de meu ser eu vivo?
Ao meu cristal negro

O coração para mas tenta lutar
A respiração esvai sem se deixar levar
O cabresto cobre meus olhos...
Mas sem me cegar

Minhas pálpebras desenvelopam o véu imaterial
Meus olhos
Minhas mãos escorrem pelo meu rosto e tiram a venda
Se abrem
Minhas razões não se limitam mais em cubículo
Esvoaçam estrondos rompendo rombos chocando chutes lutando ilustres
Trincou-se meu cristal negro.

Pois os pombos cantam quando querem
E se o sol sai, foi por sair
Trincou-se meu cristal negro.
Pois floresce apenas quando dá
E se me sorriem, posso sorrir
Trincou-se meu cristal negro.
Pois vejo mãos que se oferecem
E uma escada que eu fingia não existir

Procurando tudo em mim e fora de mim
O eu que não está aqui
E tudo e todos que me fazem eu
Abro a velha caixa de jóias
Beijo e guardo meu cristal negro
Junto com todas outras pedras
Que sempre carregarei dentro de meu coração

Nenhum comentário: