02 junho 2009

Carta de alforria



Debruçado na janela
Olho o céu, esperando os raios de sol
Aguardando ansiosamente por alguma coisa
Que finjo não saber o que é

As palavras ficam enterradas na garganta
Os olhos encobertos de remela
E os sonhos mumificados a base de formol
Extenuando até a última gota as esperanças
Num delírio que recria todo dia a fé

Malditos dias estes!
Vão embora, vão tarde!
Eu agora quero novos dias

Eu quero
O dia em que não vou mais desejar
Que o vento te sussurre os meus sentimentos
Que as ondas explodam em tsunamis meus pensamentos
O dia em que não vou mais esperar
Que apenas um olhar diga todas minhas palavras
Que apenas gestos vagos me libertem de minhas amarras

Com toda a minha força eu quero
O dia em que não vou mais fingir
Que me entendo e entendo você,
Que prefiro não arriscar e dizer,
Que estou feliz e satisfeito
Em ficar remoendo e deixar doer

Chega!
Chega de lágrimas inúteis
Chega de soluços patéticos
De tristezas decadentes e tímidas
Que se alastram como um câncer
Incapacitante, decepante, atormentador
Que é o medo de viver

Venha, venha
Eu quero e terei
Me esforçarei para alcançar
O dia
Em que não vou mais precisar
Me esconder atrás de um poema para dizer que te amo
Em que não vou mais me lamentar
Pelas coisas que nunca tive coragem de fazer
Em que eu vou agir
Sem atacar ou fugir
Para ser uma pessoa melhor

Eu quero
Eu faço
Eu construo agora
O dia em que vou me libertar
De mim mesmo
O dia em que conquistarei a liberdade
De poder voltar a desejar outra coisa
A liberdade de deixar algum sonho me escravizar
E por ele lutar, sem nunca temer
A arte de viver
E não somente existir.

Um comentário:

Bruna Rocha disse...

Oi Cell, eu não comento muito aqui, mas devo dizer que é muito bom poder se "refugiar" nos textos do teu blog.
Bjs