Você foi embora
Não sei se para sempre
Ou só um tempo em Pasárgada
Deixou uma sacola de roupas sujas
Meias calças no varal
E minhas lágrimas, molhadas,
Suaram no meu corpo febril
Enquanto via na lua amargurada
O reflexo poético que mingua a minha vida em quartetos sem um único som
Que me fazia esquecer: os seus braços, a sua pele, o seu licor
O coração para:
De repente tudo aquilo repentino
Fecho os olhos
E me imagino: Há tantas coisas a mais
A se imaginar!
Casar, projetos, sonhos
Todos em maderite
Todos precisando não de reboque
Não de tinta
Mas de alicerce
Argamassa, e pronto
Dane-se o acabamento
Gasta-se menos dor, e mais cimentos
Pois o dia é cinzento
E nossa arte
Brota de qualquer tipo de cor
O coração para:
Há um poema depois do outro poema
Que diz: "A luta contra os sonhos
Começa na lucidez
A luta contra o pesadelo
Acaba em luzífer
Sou uma mente que adormece
Outra que quer viver
Minha alma em letargia
E não há asia que faça
Esse calor, gelo
Ou plasma
Me queimar, derreter
Ou pairar sobre o etéreo"
Sou aéreo!
Luto contra minha sobrevivência
Sim, é o que você ouviu!
Até a quem no mundo eu boto
E é filho do meu mais íntimo
Eu digo: Me saboto! Me saboto!
Sou ínfimo...
Infinito, quarks, ânions
Laisers de Plutão
Na periferia do universo
Sinto nem frio, nem calor
Que dizem ser valioso, ou retrocesso
Sou idéias no ar
Sou rua depois da outra rua
Agora que elas viraram outro mundo
E talvez no futuro
Eu viva num graffite
Num quadro moderno
Os realistas comeram meu cérebro
Vomitarei São Paulo
Todas as suas vielas, becos, e ladeiras
Não, não...
Vou deixar São Paulo em paz
Pois não há maior tristeza para uma pólis
Do que se ver cosmo, mas não ser paulistana, politana, política!
Você foi embora assim de repente
Da minha vida
E eu já tava com tudo isso engasgado:
- Cadê você rua proibida, que os ricos também pixam
E os pobres dão risada não só deles
Como desse mundo engraçado
Que gira, feito bola.
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