26 maio 2008

REPLETO DE SILÊNCIO, de tudo um pouco...


Precisamente para ser tudo, antes de mais nada, contudo, é preciso ser nada. Ora, como poderia o todo caber-se por inteiro em pleno nada se o nada contivesse em si alguma coisa, antes do todo?

Contivesse alguma coisa o nada, ele todo imediatamente deixaria de ser nada e nada jamais nele, coisa alguma, eternamente, teria chances de ser tudo.

Se tudo conta, nada fica. Se tudo fica, nada conta.

Quando inteiro fico de meu nada, nada conta em mim antes de tudo. Se pleno de mim, um dia, contudo, eu fico, é porque inteiro me escondo até onde meu eu possa caber, inteiro de si e de mim, dentro de meu nada.

Mas que nada é esse do qual se pode dizer ser possível dentro só ficar? Pois se há um vazio dentro do nada, só por ter o nada dentro de si um só vazio, já tem contudo, alguma coisa dentro em si, algo que por si só jamais permite que o todo por inteiro possa um dia ali entrar.

Se algo entra, é porque algo sai. Se tudo entrasse, o todo sairia e nada restaria pra ficar; sempre que nada fica dentro é porque o nada inteiro sai, e quando quer que ele, o nada, esteja fora, morre-se o vazio, nada é mais inteiro, e o todo, pleno de si, morto do vazio, nunca mais preencheria algo, pois nada mais haveria onde tudo pudesse inteiramente vivo estar.

Não se importe em compreender todo este texto aparentemente complexo, nem perca nada de seu tempo em memorizá-lo; ele é simplesmente algo sem nexo, um todo vazio, um nada por inteiro, impossível de lembrar; assim como o são as memórias todas, virtualmente repletas de nada, na insanidade vazia de uma febre por contar, preenchidas sobretudo de dor; antes mais de nada, um nada acima de tudo, que nada sabe sobre esquecer, nem quanto dói aquilo tudo que sempre é febril e vão lembrar.

Repleto de silêncio, calado de tudo, todo vazio, nada sou. Sou nada mais que mero ninguém, alguém vazio de um pouco de tudo; algo enfim, sobre quem nem mesmo o nada, sobretudo, em seu vão contar, sabe ao menos se calar.


Paulo Urban

Tema: DE TUDO UM POUCO

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